Chuva que 'castiga cariocas' não é desastre, é falta de política pública
Terça-feira, 18h. No visor do celular, o push informativo da Defesa Civil, que alertava sobre o risco de chuvas e os transtornos que poderia causar na cidade.
Depois, se formou um mar, só que diferente do que está na orla: bueiros entupidos, alagamentos a perder de vista, galerias pluviais sem dar vazão.
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Quem pôde sair mais cedo do trabalho, assim o fez. Quem não pôde, como eu, ficou não a ver navios, mas sim objetos flutuantes pelas ruas, sintoma do acúmulo de rejeitos e da força da água . Só nessa ocasião choveu mais do que o previsto para o mês inteiro.
A cabeça ficava onde? Na vida das pessoas em situação de rua, vulneráveis e sem assistência. Na população mais pobre do Rio, em geral, nas favelas e periferias, sendo uma delas de onde eu parti, a Rocinha.
Hoje vizinho ao bairro, tive temor por imaginar o que aconteceria por ali, já que mãe e sobrinha-filha estão por lá e sofrem com as chuvas que não surgiram de repente no calendário.
Ao ver as cenas de destruição, onde motos e carros escorriam pelas vias da maior favela do país, pensar em todas as regiões que sofreriam situação parecida, como a comunidade de Rio das Pedras, na Zona Oeste do Rio.
Não por coincidência, ambos lugares presentes em um mapa realizado pelo Jornal O Globo que mostra as regiões mais quentes da capital — o que explicita bem os impactos das mudanças climáticas e nos leva a refletir de maneira mais enfática sobre a questão, afinal, precisamos separar tragédia de descaso.
É nítido de que o estrago causado por essas chuvas faz de locais como a Rocinha e Rio das Pedras exemplos palpáveis da falta de uma ampla política de saneamento básico. Dá pra se prevê, dá pra mitigar. Mas existe vontade política?
Assim, a urgência de ouvir os moradores para a criação de estratégias que reduzam os transtornos causados, tendo como base primordial a discussão sobre acesso à saúde, segurança e, indo além, meio ambiente, pensar esgotamento sanitário, abastecimento de água e drenagem das chuvas.
"É racismo ambiental. Pra isso ser visto como prioridade, a questão estrutural precisaria ser vista como uma, o que não acontece", me pontuou o amigo Pedro, numa troca feita pelo WhatsApp.
Nas redes sociais, Tainá de Paula, minha ex-colega de Ecoa e atual Secretária Municipal de Ambiente e Clima do Rio de Janeiro indicou possíveis caminhos:
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