Livro sobre identitarismo enriquece no campo da produção e da rejeição de ideias

Os livros de ciências políticas redigidos com paixão transpiram a energia do autor para afirmar que estamos no meio de uma guerra entre maneiras opostas de enxergar o mundo —e que a sociedade que se cuide para não cair do lado errado.

É o caso de "The Identity Trap" (a armadilha da identidade, em tradução livre), do acadêmico alemão naturalizado americano Yascha Mounk. O livro saiu este ano nos Estados Unidos pela Penguin Books e não tem ainda previsão de tradução no Brasil.

O conceito de identidade explodiu no meio universitário americano e hoje se mostra dominante em parte da mídia, no Partido Democrata, em ONGs que elaboram políticas públicas e até mesmo em grandes empresas.

Um cidadão negro e homossexual, por exemplo, pertencerá simultaneamente a dois grupos que foram historicamente discriminados. Ao lado da origem étnica e da orientação sexual há uma variedade de outros grupos também historicamente sujeitos a alguma forma de opressão. Aqui entram as questões de gênero, a identidade religiosa ou a existência de deficiências físicas.

Insistir na identidade é conceber essas minorias como pequenas ilhas que exigiriam políticas prioritárias. Elas se tornariam mais importantes que a luta pela plataforma mais ampla da democracia.

Yascha Mounk não desqualifica o processo de reivindicação desses grupos. O que ele argumenta, no entanto, é que, por meio da ideologia identitária, um grupo tende a competir com outros grupos, em busca de visibilidade, espaço político ou orçamentário. A alternativa seria a de todos se juntarem para a defesa conjunta de valores universais que esses grupos, isoladamente, não levam mais a sério. Entre os identitários mais envolvidos, saiu de moda evocar direitos humanos ou liberdade de expressão.

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Mas o identitarismo não emergiu por um passe de mágica. Mounk vê sua gênese na esquerda europeia, de mais de 60 anos atrás. O marxismo, como pensamento na época dominante, sofreu alguns desgastes, como a denúncia dos crimes de Stálin —e o consequente descarte do modelo soviético— ou a demora infinita de uma revolução socialista que se imaginava iminente no pós-Guerra.

Mounk sente uma afinidade pessoal com essa esquerda. Seus quatro avós, todos judeus, eram militantes comunistas na Polônia nos anos 1930. Ele próprio, já nascido em Munique em 1982 pertenceu ao Partido Social-Democrata alemão e transpira uma aversão saudável à ultradireita de Donald Trump.

Cientista político formado em Cambridge e em Harvard, Mounk aponta o filósofo francês Michel Foucault como aquele que botou o primeiro ovo no ninho da serpente. A identidade seria o desdobramento de uma noção ampla de "poder", fonte de autoridade que é plural e difusa, contrapondo-se ao poder monolítico no modelo institucional marxista.

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