'Feijoada em troca de livros': uma biblioteca agita Campina Grande

"Olha o chamamento do livro!", gritou a cozinheira Maria do Socorro Lima Cabral pelo bairro do Tambor. O seu filho, Williams Cabral, estapeava o surdo - um instrumento musical - e puxava o cortejo conduzido pelo grupo de percussão Maracagrande. Os batuques e os gritos de dona Maria animaram o pessoal da Rua do Juá 114, rodeada de casas bem ordenadas, pequenos comércios e cortada por uma linha de trem desativada. Neste universo, bairro de mil possibilidades e sonhos, um rastro cultural marcaria o dia 28 de fevereiro de 2010: data em que nasceria a biblioteca do Tambor, na cidade de Campina Grande.

"Dávamos uma porção de feijoada em troca de um livro", disse Williams aos risos. Um sorriso que sabe quando iluminar para encontrar caminhos e se apagar para peitar os obstáculos. Williams Cabral é cria da arte e das políticas públicas de um Brasil possível. Aos quinze anos já fazia teatro e dançava quadrilha, balé popular, coco de roda e ciranda. A arte fez com que ele fugisse daquilo que a sociedade esperava que fosse. Formado em História pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), caiu pra dentro do mundo cultural, da movimentação dos espaços públicos e da produção de eventos, até que em 2010, entre suas pesquisas e antenas ligadas no mundo, teve a ideia de criar uma biblioteca comunitária.

O Brasil que deu certo

Arrumou um espaço na associação dos moradores do Tambor e decidiu que concretizaria esse sonho. "Simbora sair gritando isso pelas ruas e ver se dá bom." Deu bom. Música boa. Feijoada em troca de livros. O cortejo pelo bairro funcionou, mas o espaço físico da biblioteca precisou mudar, pois no final de 2010, a coordenadora da associação achava que o povo do Tambor não queria ler e que aquilo era perda de tempo.

"Esses livros tão é tomando espaço aqui da associação", ela disse.

Com uma carroça de burro e três viagens de ida e volta, Williams levou todos os livros para a garagem da sua mãe e ali, até hoje, oficializou-se como a biblioteca do Tambor. Com o tempo, a biblioteca precisou expandir as suas atividades: em 2011 começaram as aulas de capoeira com o professor Morcego, da Rua do Fogo. Vieram as oficinas de maracatu, coco de roda, confecção de papel machê, contação de história, teatro, o primeiro evento nas ruas, em 2013, que seguiu com o "Tambor na ativa", "Tambor de Memórias" - onde ocorre um bingo valendo um bode e tem o intuito de instigar nos moradores as memórias e histórias da região -, "Tambor das artes" e o "Tambor no cinema", até a ideia recente de formar uma bateria para o "Estrela da Invasão do Tambor", time de futebol do bairro que já vendeu mais de 150 camisas oficiais.

2 - Bruno Ribeiro/Ecoa - Bruno Ribeiro/Ecoa escritor - Nana Grunevald/ysoke - Nana Grunevald/UOL BRUNO RIBEIRO nasceu em Pouso Alegre (MG) e vive em Campina Grande (PB). É escritor, tradutor e roteirista; autor, entre outros, de "Porco de Raça" (Darkside Books), "Como usar um pesadelo" (Caos & Letras) e "Bartolomeu" (Kindle). Foi laureado com 1º Prêmio Machado DarkSide Books, em 2023, o 1º Prêmio Todavia de Não-ficção, além de ser finalista do Prêmio Jabuti de Romance de Entretenimento 2022.

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