Em risco de extinção, arara-azul-de-lear freia projeto eólico em Canudos

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A companhia francesa Voltalia obteve permissões e começou a construir, em 2023, um complexo eólico com 28 turbinas com capacidade para produzir 99,4 megawatts no município de Canudos, no norte da Bahia, região do semiárido nordestino.

Mas rapidamente o projeto se deparou com uma "parede de críticas" após a divulgação de que as enormes torres de 90 metros, com aerogeradores de 120 metros, atravessam duas áreas onde a arara-azul-de-lear pernoita.

Assim nomeadas pelo nome do poeta e viajante inglês Edward Lear, que imortalizou estas aves em um de seus desenhos, no século 19, estas araras endêmicas foram classificadas como espécie no fim dos anos 1970 e 💥️atualmente não há mais de 2.000 exemplares na natureza.

"É muito arriscado e poderá aumentar consideravelmente os riscos de extinção", diz à AFP Marlene Reis, do Projeto Jardins da Arara-de-lear, concentrado na preservação da espécie.

Para a especialista, o impacto do complexo eólico "poderá ser irreversível, especialmente para um bicho tão emblemático como é o caso da arara, que habita e se reproduz, única e exclusivamente, naquela região".

Em atenção a estes argumentos, a justiça federal paralisou, em meados de abril, a construção das turbinas (já em fase final), derrubando as permissões dadas pelo estado da Bahia à Voltalia.

Segundo a decisão, um complexo eólico situado no território de espécies ameaçadas ou em rotas de aves migratórias não pode ser considerado de baixo impacto ambiental.

A corte ordenou fazer estudos mais rigorosos, assim como consultar as populações locais.

A Voltalia, presente em quatro estados brasileiros e 20 países, denunciou a suspensão "indevida" e recorreu da decisão.

Arara-azul-de-lear está em risco de extinção e construção de complexo eólico preocupa protetores. - AGAMI stock/Getty Images/iStockphoto - AGAMI stock/Getty Images/iStockphoto A arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari) é encontrada apenas no Raso da Catarina, no nordeste do estado da Bahia, Brasil. - TacioPhilip/Getty Images/iStockphoto - TacioPhilip/Getty Images/iStockphoto A arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari) é encontrada apenas no Raso da Catarina, no nordeste do estado da Bahia, Brasil.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que assumiu a Presidência em janeiro, prometeu impulsionar este potencial, após quatro anos de deterioração das políticas ambientais durante o governo de Jair Bolsonaro.

Lula quer transformar o Nordeste, que abriga 725 dos 828 complexos eólicos do país, "no maior celeiro de energia limpa e renovável do mundo", disse este mês o ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira.

Silveira anunciou planos para instalar na região até 30 gigawatts de projetos de geração de energia limpa, especialmente eólica e solar. Os investimentos podem chegar a 120 bilhões de reais.

O complexo eólico de Voltalia também suscita outras preocupações. Nas zonas rurais em seu entorno, cerca de 7.500 pessoas ainda praticam uma ocupação comunitária da terra para agricultura e pecuária.

"O impacto é geral porque quebra todo o sistema e a cultura tradicional", diz à AFP Adelson Matos, de 65 anos, criador de cabras, ovelhas, vacas e galinhas, além de produtor de frutíferas na localidade vizinha de Alto Redondo.

O parque eólico "quebra toda harmonia com o habitat natural", afirma, queixando-se do barulho, da circulação de veículos dia e noite, alteração do ciclo da chuva e vento com a infraestrutura gigantesca.

"Em nome do progresso, as pessoas acatam sem analisar", lamenta.

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