Torcidas LGBT começam a ocupar espaço até então proibido no esporte

circuito altamente machista e homofóbico do futebol masculino.

Por medo da discriminação e da violência, tanto movimentos como a Palmeiras Livre quanto a maioria da comunidade LGBTQIA+ quase sempre preferiram manter distância do esporte, que, em boa medida, se assenta como um espaço masculinizado e sectário.

Entretanto, ainda que a passos lentos, a realidade tem começado a mudar com a ascensão de torcidas e coletivos inclusivos. É o que reforça um estudo realizado pela Nix Diversidade em parceria com a Nike, que mapeou o crescimento desses grupos pelo país nos últimos anos.

💥️De acordo com o mapeamento, existem atualmente 124 coletivos LGBTQIA+ relacionados ao esporte, sendo que mais da metade deles (64) milita ou atua no futebol.

Torcida Palmeiras Livre pela primeira vez no Allianz Parque  - Reprodução/Instagram @palmeiraslivre - Reprodução/Instagram @palmeiraslivre Um verdadeiro marco no enfrentamento à LGBTfobia.

💥️Embora cada vez mais numerosa e representativa, não se trata exatamente de uma mobilização inédita. A primeira torcida inclusiva do Brasil remonta ao fim dos anos 1970, ainda sob ditadura militar, quando surgia a Coligay, grupo de torcedores homossexuais e minorias do Grêmio.

Fundado pelo cantor e empresário Volmar Santos, a organizada chamava a atenção pelos trajes irreverentes de seus membros e o barulho que fazia nas arquibancadas ao incentivar o tricolor gaúcho. Como forma de defesa, caso fosse necessário se proteger de alguma retaliação ou agressão homofóbica nos estádios, Volmar bancava aulas de caratê para os integrantes da torcida.

A Coligay durou pouco mais de seis anos, mas ajudou a inspirar a criação de outras torcidas semelhantes, como a Flagay, liderada pelo carnavalesco Clóvis Bornay, que teve curtos períodos de atividade nas décadas de 70 e 90. Desde então, o movimento de coletivos inclusivos só voltou a ser resgatado em 2013, com o surgimento da Galo Queer, grupo de torcedores LGBTQIA+ do Atlético-MG.

Torcedores da Coligay em 10 de abril de 1977 - Kamilarpp/Wikimedia Commons - Kamilarpp/Wikimedia Commons Influenciados pelas pautas e pressões desses movimentos, os clubes aos poucos têm se tornado mais sensíveis à promoção da diversidade. Ainda que as campanhas costumem se limitar a ocasiões pontuais, como o Dia do Orgulho LGBTQIA+, já é notório o avanço da temática inclusiva dentro das instituições esportivas.

Até mesmo pela maneira como manifestações homofóbicas antes naturalizadas passaram a ser repercutidas e recriminadas.

Telão na Neo Química Arena avisa a proibição de gritos homofóbicos no clássico entre Corinthians x São Paulo - Reprodução/TV Globo - Reprodução/TV Globo o economista e ex-BBB, Gil do Vigor, sofreu ataques homofóbicos de dois conselheiros do Sport após visitar o estádio da Ilha do Retiro, em Recife.

Apesar dos agressores não terem sido punidos no Conselho, o clube manifestou repúdio aos associados e solidariedade ao seu torcedor ilustre. Atualmente, Gil é diretor de diversidade do Sport, enquanto a dupla de conselheiros acabou denunciada pelo Ministério Público de Pernambuco por causa das falas homofóbicas.

💥️Outra conquista recente é a previsão de punição a cânticos discriminatórios de torcidas, instituída em 2023, ano em que o STF criminalizou a LGBTfobia.

Neste mês de julho, o Corinthians foi punido com uma partida sem público após gritos homofóbicos vindos da arquibancada em Itaquera contra o São Paulo. A sanção obrigou a diretoria do clube a lançar nova campanha alertando seus torcedores para que as atitudes não se repitam no próximo clássico entre as duas equipes, que se enfrentam pela semifinal da Copa do Brasil.

Cano celebra gol do Vasco contra o Brusque, pela Série B do Brasileiro - NAYRA HALM/AGÊNCIA O DIA/AGÊNCIA O DIA/ESTADÃO CONTEÚDO - NAYRA HALM/AGÊNCIA O DIA/AGÊNCIA O DIA/ESTADÃO CONTEÚDO

Moldar um ambiente menos tóxico e mais propenso à diversidade tem sido a principal contribuição dos coletivos e torcidas LGBTQIA+, apesar da resistência machista encontrada pelo caminho.💥️ A ocupação do espaço historicamente proibido nos estádios e no contexto do esporte como um todo favorece, inclusive, a comunidade de atletas.

Por um lado, mais pessoas serão encorajadas a praticar modalidades esportivas, pois a representatividade tende a ser inversamente proporcional à sensação de insegurança de quem precisa desbravar uma área dominada por padrões de masculinidade.

Por outro, atletas profissionais LGBTQIA+ também se sentirão mais respaldados para declarar abertamente sua orientação sexual em ambientes acolhedores, como acontece no futebol feminino, em que várias jogadoras já quebraram o tabu ao expor seus relacionamentos homoafetivos.

Sim, o momento é histórico, fruto de longa e inacabada luta coletiva. Que ganha proporções sem precedentes no esporte a partir das sementes plantadas por torcidas e coletivos inclusivos.

*Com mais de uma década de atuação como jornalista esportivo, Breiller Pires trabalhou por cinco anos na revista Placar e foi editor de esportes da sucursal brasileira do jornal El País. Atualmente, é comentarista dos canais ESPN. Suas reportagens mais destacadas envolvem temas como futebol, política e direitos humanos.

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