Famílias resistem em quarteirão fantasma da antiga cracolândia

Em meio a um quarteirão de 55 imóveis interditados com risco de desabamento, no centro de São Paulo, uma casa ainda é moradia para 15 famílias, que vivem lá desde abril de 2023, a maioria após ter sido despejada de outra ocupação próxima.

O quarteirão fica no entorno da praça Júlio Prestes, no bairro Campos Elíseos, endereço da cracolândia por cerca de 30 anos até maio do ano passado, quando os usuários de drogas se espalharam pelas ruas do centro de São Paulo.

Com risco de ruir após terem sido invadidos por usuários de drogas que destruíram portas, janelas e a alvenaria das construções para retirar as estruturas de ferro, os casarões devem ser demolidos para darem lugar a um projeto de habitação social.

Para impedir que os escombros atinjam pedestres e veículos, há cerca de três meses a prefeitura mantém uma fileira de cavaletes que interdita parcialmente a rua Helvétia, entre as alamedas Barão de Piracicaba e Dino Bueno, e o largo Coração de Jesus, onde estão localizados os imóveis condenados.

"Quando chegamos, estava abandonado e ocupado por usuários de drogas", diz Lays Pereira da Silva, 35, líder da ocupação. "Instalamos os canos e compramos telhas para servir de portão. Até as janelas tinham sido arrancadas", conta, sobre a única casa ainda habitada no quarteirão.

Ela mora em um dos cômodos com os três filhos. Sua avó, tia e primos ocupam outros quartos. Outras 25 crianças e 15 adultos dividem o imóvel. "Vivemos aqui por necessidade, ninguém gosta de morar em ocupação. Sabemos que existe preconceito", diz.

No início deste mês, os moradores receberam uma intimação para deixar o imóvel, mas a ordem de despejo foi anulada pela Justiça em decisão liminar na última quinta-feira (25). A imissão na posse do imóvel, porém, já foi formalizada, e as famílias não sabem até quando vão poder ficar lá.

A dominicana Maria Estefani Martinez Alvarez, 32, se mudou para a ocupação após ficar sem renda e atrasar o aluguel na pensão onde morava a poucos quarteirões dali. Seus dois filhos estudam desde o início do ano no Liceu Coração de Jesus por meio de um convênio firmado entre a Prefeitura de São Paulo e a escola particular para receber alunos da rede municipal de ensino. "Se eu sair daqui vou ter que tirá-los da escola", diz.

Sua tia, Norma da Graça Alvarez, 57, mora com ela em um barraco construído no quintal da casa e afirma não ter renda desde que seu bar foi fechado no ano passado. O estabelecimento ficava em uma rua próxima e foi alvo de ação policial que esvaziou e lacrou todos os pontos comerciais nas vias onde ficava o fluxo de usuários de drogas. "Nos tratam como dependentes químicos, mas eu nem bebo, eu só trabalho", diz.

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