Após caso Americanas, varejo melhora transparência, mas não reconhece risco sacado como dívida

Depois do escândalo bilionário da Americanas no início deste ano, a maioria das empresas do varejo aumentou a transparência em seus balanços, especificando melhor as despesas que têm com o chamado risco sacado. No entanto, as companhias seguem reportando o dado dentro dos resultados operacionais, sem reconhecer esse mecanismo como uma dívida.

Risco sacado é um tipo de operação na qual a varejista consegue antecipar o pagamento a fornecedores por meio de empréstimo junto aos bancos. A instituição financeira, portanto, adianta o pagamento direto para o fornecedor e quem paga o banco é a varejista. O juro do empréstimo pode ser cobrado tanto do fornecedor como da varejista, dependendo de como a operação é estruturada.

Essa modalidade de pagamento a fornecedores está no centro da crise na Americanas, que reportou um buraco de R$ 20 bilhões em janeiro, e depois entrou em recuperação judicial declarando dívidas ainda maiores. Após o caso, companhias do setor mudaram a forma como reportam o dado em seus resultados trimestrais.

Segundo levantamento da consultoria empresarial americana FTI Consulting obtido com exclusividade pela Folha, das 10 empresas do varejo com capital aberto na Bolsa de Valores de São Paulo que têm perfil semelhante ao da Americanas, 7 aprimoraram a maneira de informar suas despesas com o risco sacado depois do escândalo.

As 3 empresas que não fizeram mudanças nessa parte do balanço é porque já possuíam formas mais transparentes de apresentação do dado.

O estudo comparou os resultados financeiros do terceiro trimestre de 2022, ou seja, divulgados antes do estouro da crise da Americanas, com os balanços do primeiro trimestre deste ano, portanto, depois do escândalo, das seguintes empresas: Magazine Luiza, Via, Natura, Lojas Renner, C&A, Guararapes, Marisa Lojas, Grupo Soma, Arezzo e Alpargatas.

Dessas, Guararapes, Arezzo e Alpargatas foram as que não modificaram a forma de reportar o risco sacado em seus balanços.

A Americanas ficou de fora do levantamento porque não tem reportado seus resultados financeiros desde a crise.

O estudo também mostrou que, embora as empresas tenham feito melhorias para ser mais transparentes com relação ao risco sacado, essa despesa ainda é reportada na parte operacional dos balanços, e não na financeira, dentro das dívidas.

Segundo o diretor executivo sênior da FTI Consulting, Luciano Lindemann, a orientação da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) é para que as companhias insiram o risco sacado como uma dívida, dentro dos dados financeiros. Na prática, o risco sacado é uma operação que envolve bancos e que, portanto, têm taxas e riscos maiores do que uma simples despesa com fornecedores.

Acontece que, ao reportar risco sacado como despesa com fornecedor, a empresa consegue reduzir o seu endividamento.

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