O pessimismo necessário para narrar o horror

Em artigo publicado nesta 💥️Folha ("É preciso narrar o horror", 23/4), o professor José Henrique Bortoluci pontuou de forma brilhante uma necessidade para nossos tempos: a urgência de narrativas que elaborem o horror experimentado recentemente pela sociedade brasileira, plasmado em pandemônio singular, feito de pandemia, negacionismo e estupidez.

O sofrimento inaudito, para ser criticamente registrado e combatido, requer, de fato, um amplo tecido de discursos. Sem descrições do mal, a violência inusitada que produziu mais de 700 mil cadáveres, milhares evitáveis, se naturaliza e se perpetua como trauma. Mas, para descrever o mal, conceitos propícios.

Faz três anos que estamos testando palavras e apelando a neologismos, mas agora que a Organização Mundial da Saúde declarou o "fim da emergência de saúde da pandemia", com qual filosofia, com quais conceitos narrar o rastro de morte e pavor, cravado como marca da humanidade e das civilizações do século 21, para que esse pandemônio não caia no esquecimento como um evento justificado do passado?

As peças do tecido estão aí, não precisamos de termos inéditos. Ao invés disso, dá para aproveitar os existentes, despoluindo aqueles aparentemente inservíveis, mas que não serviriam apenas devido às camadas de pechas que acumularam.

É o caso de pessimismo. Existe há séculos como palavra e como visão filosófica de mundo, mas foi tão vulgarizada que virou refém de expectativas ruins e da metade vazia do "copo". Pessimismo vem de "pessimus", "o pior". Opõe-se a otimismo, de "optimum", "o melhor". Pessimismo e otimismo filosóficos designam visões críticas de mundo.

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