Livros só de mulheres na Fuvest são importantes para conscientização, dizem professores

A decisão da Fuvest, que seleciona os ingressantes da USP (Universidade de São Paulo), de exigir uma lista de leitura só com obras escritas por mulheres no vestibular dos próximos três anos é importante para inclusão, mas pode provocar resistência de parte dos alunos e professores. A conclusão é de especialistas ouvidos pela reportagem.

A nova lista, antecipada pela 💥️Folha, vale a partir da prova que será realizada em 2025 para ingresso na universidade em 2026 e deixa de fora autores como Machado de Assis, presença obrigatória nas relações até este ano.

"É importantíssima a iniciativa da Fuvest. No Brasil, a autoria feminina sempre foi deixada de lado. Em escolas, começam a estudar autoras mulheres somente a partir do modernismo, com Clarice Lispector ou Lygia Fagundes Telles", diz Maria de Lourdes da Conceição Cunha, professora de literatura do Colégio Objetivo.

Cunha diz acreditar que os candidatos vão gostar bastante das escritoras presentes na lista. "Ela é muito diversa, com narrativas tradicionais e atuais, tudo de muita qualidade."

As seguintes autoras estarão entre as leituras obrigatórias: Conceição Evaristo, Djaimilia Pereira de Almeida, Julia Lopes de Almeida, Lygia Fagundes Telles, Narcisa Amália, Nísia Floresta, Paulina Chiziane, Rachel de Queiroz e Sophia de Mello Breyner Andresen.

Para Vinicius Teixeira, professor de literatura do Curso e Colégio Oficina do Estudante, a inserção dos nomes não é só importante, mas revolucionária por enfrentar o machismo estrutural brasileiro.

Francielly Baliana, professora de literatura do curso Poliedro, porém, prevê uma certa resistência de parte dos alunos e professores em relação à exigência só de obras escritas por mulheres nos próximos anos.

"Muitos alunos e famílias vão achar desnecessário. Até alguns professores apegados a certos autores e não entendem que a literatura também caminha, se transforma", diz Baliana, destacando que essa mudança na USP será uma oportunidade para os brasileiros olharem pela perspectiva das mulheres que serão representadas.

"É mostrar para os meninos, principalmente, outros tipos e perspectivas femininas. Muitos crescem lendo e vendo no cinema um estereótipo de mulher, e agora mostraremos outras realidades femininas."

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A professora afirma que a USP sempre foi preocupada com o cânone (norma literária), exigindo obras clássicas, diferentemente da Unicamp, que já havia admitido autores contemporâneos e estrangeiros.

"É sintomático que, ao longo da literatura, quando fomos reposicionando o espaço no cânone, muitas mulheres foram reconhecidas, mas não permaneceram, como Carolina Maria de Jesus. Mas por que não ficou? É uma espécie de repulsa", diz. "É um valor historicamente construído por homens, para homens e sobre homens."

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