Lula não entende a complexidade do conflito, diz líder da esquerda em Israel

No verão de 2011, centenas de milhares de pessoas saíram às ruas de Tel Aviv para protestar contra o aumento do custo da habitação e o declínio dos serviços públicos, como saúde e educação. A líder do movimento foi Stav Shaffir, uma jovem ativista pela paz e pelos direitos humanos. No ano seguinte, com 27 anos, decidiu "passar do protesto à política", tornando-se a mais jovem mulher a ser eleita deputada em Israel. Em representação do Partido Trabalhista, emergiu como uma das mais veementes opositoras ao primeiro-ministro Binyamin Netanyahu e como uma das principais esperanças da esquerda israelense para regressar ao poder, como escreveram em editoriais os jornais Haaretz e The Times of Israel.

No entanto, em 2023, disputou a liderança do seu partido e perdeu para o ex-ministro da Defesa e da Economia, Amir Peretz. Já afastada da política partidária, voltou às ruas em 2023 para protestar contra o novo governo de Netanyahu.

Em entrevista por escrito à coluna, afirma que não há possibilidade de haver paz enquanto os palestinos não forem representados por líderes moderados e enquanto Israel for liderado por Netanyahu. Rejeita também as críticas ao uso desproporcional da força na resposta de Israel ao ataque do Hamas, apesar dos quase 30 mil palestinos mortos desde o início da guerra.

Lula referiu-se às ações de Israel como "genocídio" e rotulou o ataque do Hamas como um ato "terrorista". São termos pouco convencionais para um chefe de Estado. Mas a situação grave no terreno não justifica a linguagem forte?

A declaração de Lula foi vergonhosa, ignorante e incrivelmente prejudicial. Como alguém que sempre respeitou o seu trabalho, estou desiludida. Eu não sabia que ele poderia tão facilmente cair na armadilha do populismo sem se importar com os resultados ou a dor que pode causar. Descrever um país que foi fundado como lar do povo judeu, após as atrocidades do Holocausto, como "nazista", porque está se defendendo de um grupo terrorista que declarou publicamente que visa nos destruir –é uma terrível distorção da realidade.

Talvez Lula precise de um lembrete: o Hamas, o grupo terrorista que priva os palestinos do direito de criticar, votar ou lutar por suas vidas, lançou um ataque brutal contra vilarejos israelenses no dia 7 de outubro. Os terroristas do Hamas sequestraram bebês de suas camas depois de atirarem em suas mães e pais; estupraram jovens meninas e mutilaram seus seios. E transmitiram tudo online –às vezes na página do Facebook das próprias vítimas, para suas famílias assistirem. O Hamas assassinou mais de 1.300 pessoas inocentes e sequestrou 240 mulheres, crianças e homens, sob condições horríveis e ameaça constante de morte. Alguns deles eram árabes, o Hamas não sequestrou apenas judeus. Nenhum país permitiria que tal ataque acontecesse em seu território. É responsabilidade de Israel defender seus cidadãos e trazer os reféns de volta para suas casas.

A nossa nação está sangrando desde o 7 de outubro. O mais jovem dos reféns, que se chama Kfir, tem a mesma idade da minha filha: um ano de idade. Está em cativeiro sem acesso a cuidados, fornecimento regular de alimentos ou atendimento da Cruz Vermelha. Você consegue imaginar o que a mãe dele está sentindo agora, se estiver viva?


O ataque do Hamas matou mais de 1.300 pessoas, enquanto a resposta de Israel resultou em quase 30 mil, incluindo muitas crianças. Como a esquerda progressista em Israel aborda essa falta de proporcionalidade?

Se o Hamas libertasse os nossos reféns, poderia já ter havido um cessar-fogo há muito tempo. Os que seriam para você as "proporções" corretas? Você sugeriria que para cada estupro de uma jovem judia, o exército israelense deveria cometer uma atrocidade semelhante em Gaza? Você sugeriria sequestrar 240 inocentes de Gaza como uma resposta "proporcional"? Como funcionaria essa equação horrível? São termos distorcidos para analisar assuntos sérios de vida e morte. Ao contrário do Hamas, Israel está se defendendo e não desfrutando desta guerra. Estamos fazendo todos os esforços para evitar ferir civis, mas o Hamas está disparando foguetes de dentro de escolas e hospitais para garantir que isso seja impossível. Israel não escolheu esta guerra, nós adoraríamos voltar no tempo. Nós saímos de Gaza há quase 20 anos, deixando-a sob controle do Hamas. Em vez de terem aproveitado para construir uma nação, decidiram construir um refúgio terrorista, sem democracia, sem direitos humanos, deixando seus cidadãos na pobreza e na miséria.

Netanyahu ascendeu ao poder em 2009 e, desde então, a esquerda tem tido dificuldades em se estabelecer como uma alternativa política viável. A guerra em curso afastou ou aproximou a esquerda de assumir o poder?

Como ativista pela paz, que passou 8 anos no parlamento israelense fazendo oposição a Netanyahu e a seu governo, tenho lutado toda a minha vida pela solução de dois Estados entre israelenses e palestinos. No sentido inverso, organizações terroristas como o Hamas têm lutado toda a vida contra essa mesma solução. O Hamas quer toda a terra, incluindo Israel.

É motivado apenas pelo desejo de se manter no poder e por uma crença jihadista radical. Foram eleitos em 2006 e, desde então, nunca convocaram eleições.

Alguns dos melhores ativistas pela paz foram assassinados pelo Hamas no dia 7 de outubro. Ser um ativista pela paz em Israel significa lutar por direitos iguais, paz e uma vida decente para todos, israelenses e palestinos. Nossa missão é dupla: precisamos convencer nossos compatriotas israelenses, que estão traumatizados pelo ataque do Hamas, que a paz ainda é possível. E precisamos também substituir o nosso próprio governo, que é controlado por populistas e extremistas religiosos. Bibi é o líder mais nocivo da história de Israel. Para nosso próprio bem e para o futuro de Israel, devemos substituí-lo o mais rapidamente possível.

As pessoas de fora da região que realmente se interessam pela paz e querem ver tanto palestinos quanto israelenses viverem em liberdade, devem parar de olhar para esse conflito como um jogo de soma zero, porque o ganho obtido por uma das partes não é necessariamente equivalente à perda sofrida pela outra. Devemos apoiar os construtores da paz e enfrentar os extremistas e as forças antidemocráticas dos dois lados. O futuro acordo de paz só poderá acontecer com organizações palestinas que abandonem o caminho da violência e estejam prontas para baixar suas armas. Também não acontecerá com Netanyahu.

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