Repensando o consumo de carne: impactos em nossa saúde e no planeta
Recentemente, Dubai sediou a COP28, onde mais de 130 países, incluindo o Brasil, assinaram a Declaração dos Líderes sobre Sistemas Alimentares, Agricultura e Ação Climática em 1º de dezembro. Esse compromisso coletivo busca reduzir as emissões de carbono dos sistemas alimentares, responsáveis por um terço das emissões globais de gases de efeito estufa causadas pelo homem; adicionalmente, 70% do desmatamento global é atribuído à produção de commodities agrícolas e à mudança no uso da terra.
A Declaração dos Líderes reconhece que o modelo atual de produção e consumo de alimentos contribuiu para a degradação ambiental, aumentando o risco de doenças relacionadas à dieta e eventos climáticos extremos, além de estar relacionado a questões éticas.
Apesar de a agropecuária ocupar mais de um terço da superfície terrestre e representar quase 70% do consumo de água doce, há contradições notáveis: 735 milhões de pessoas passam fome, enquanto 1,9 bilhão têm sobrepeso ou obesidade. O aumento dos eventos climáticos extremos deve impactar negativamente a produção, estocagem, transporte de alimentos, e a segurança alimentar.
Em um esforço para solucionar esse paradoxo, a Comissão EAT-Lancet desenvolveu uma Dieta para a Saúde Planetária. Segundo a Comissão, o aumento do consumo diário de vegetais, frutas e grãos integrais, juntamente com a redução da ingestão de açúcar, sal e produtos de origem animal, pode estar associado a uma redução de 34% na mortalidade prematura e a uma diminuição de mais de três vezes nas emissões de gases de efeito estufa, em comparação com a adoção das atuais diretrizes nutricionais.
Dados os benefícios ambientais e de saúde da Dieta para a Saúde Planetária, é crucial explorar padrões de consumo de carne, especialmente em países com alta desigualdade social como o Brasil. O país lidera a produção e exportação mundial de carne, e possui um consumo médio anual de 97 g/1000 kcal, considerado elevado em comparação com a média global.
Mais de 80% da população consome carne vermelha acima das recomendações, sendo 81% dos homens e 58% das mulheres nesse grupo. Grupos de alta renda gastam proporcionalmente menos ao adquirir carne bovina (0,3% do orçamento per capita), enquanto famílias mais vulneráveis chegam a despender até 5% de seu orçamento nesse item.
No Brasil, o consumo de carne vermelha é um indicador de diferenciação social e de classe, levando os brasileiros a relutarem em reduzir o consumo. Mudanças nos hábitos alimentares podem ocorrer mais por restrições econômicas do que por alterações nos valores sociais.
Refletir sobre o impacto de nossas dietas na saúde e no meio ambiente é essencial para superar esse paradoxo. Embora a carne vermelha forneça nutrientes essenciais e proteínas de alto valor biológico, importantes principalmente para mulheres grávidas e crianças, seu consumo em excesso está ligado a maior risco de diabetes, cânceres e doenças cardiovasculares.
Muitos brasileiros podem estar gastando com alimentos que não beneficiam significativamente sua saúde, contribuindo também para o aquecimento global. Entender a ligação entre alimentação, ambiente e cultura é essencial para debater a mudança para sistemas alimentares sustentáveis, considerando diversos contextos. No paradoxo brasileiro entre a paixão pelo churrasco e a desigualdade na distribuição de recursos alimentares, discutir sobre o consumo de carne é crucial para a adoção de padrões alimentares mais saudáveis para nós e para o planeta.
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O editor, Michael França, pede para que cada participante do espaço "Políticas e Justiça" da Folha de S. Paulo sugira uma música aos leitores. Nesse texto, a escolhida por Maria Alice e Thais Oliveira foi "Isso é churrasco", de Fernando e Sorocaba.
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