Especialistas dizem que é elitismo tornar alimentos saudáveis inacessíveis aos mais pobres

Um estudo da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), divulgado na última segunda-feira (18), mostrou que existe um maior consumo de alimentos ultraprocessados nas periferias brasileiras. O motivo, segundo a pesquisa, é o baixo preço desses produtos somado à falta de informação sobre alimentação. Os participantes do levantamento disseram que, se fosse possível financeiramente, comeriam mais frutas, alimentos orgânicos e peixes.

Profissionais de saúde e entidades da área afirmam que tornar os alimentos saudáveis inacessíveis para parte da população faz com que o país tenha que lidar cada vez mais com problemas graves de saúde pública em massa, incluindo o aumento das mortes por doenças crônicas não transmissíveis, como hipertensão e obesidade.

Segundo a epidemiologista Maria Laura Louzada, do Nupens (Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde) da USP (Universidade de São Paulo), "os ultraprocessados não são saudáveis para ninguém".

"Não é porque a pessoa é pobre que ela tem que comer qualquer coisa. O consumo desse tipo de produto está associado a mais de 30 agravos à saúde. Portanto, considerar que uma parcela da população não terá acesso a alimentação saudável é condenar essas pessoas à morte precoce por câncer, diabetes, doenças cardiovasculares, depressão. É uma lista extensa", afirmou Louzada por meio de assessoria à Folha.

O Nupens define ultraprocessados como alimentos submetidos a diversos processos industriais, incluindo a fragmentação para obtenção de carboidratos, gorduras e proteínas, modificação química e física e o "uso de aromatizantes, corantes e outros aditivos com função cosmética."

Tudo isso faz com que esses produtos demorem mais para estragar, tenham a aparência e o gosto realçados e preços menores, tornando-se um risco para quem tem renda menor, compulsão alimentar, excesso de peso ou simplesmente gosta desses itens.

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A solução, segundo Louzada, passa pelo aumento do preço dos ultraprocessados e uma oferta mais acessível a itens nutritivos. "Políticas públicas que, ao mesmo tempo, tributem ultraprocessados e incentivem a produção e o consumo de alimentos in natura ou pouco processados. A reforma tributária, em trâmite, é uma oportunidade", afirma.

Para a epidemiologista, o Imposto Seletivo deve recair sobre os ultraprocessados, enquanto os itens da cesta básica devem ser oferecidos com alíquota zero. O incentivo a pequenos agricultores e agricultores familiares é outro ponto essencial, assim como incentivo à agricultura urbana e periurbana.

"Recentemente, o Fórum Econômico Mundial divulgou um estudo sobre os custos do sistema agroalimentar para a saúde humana e propôs que os produtores sejam remunerados de acordo com a diversidade de suas colheitas. Para a indústria, o mesmo estudo sugere que excluam os ingredientes nocivos e invistam em processamento de alimentos sem todos os aditivos químicos e modificações dos ultraprocessados", aponta a pesquisadora.

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