O futuro da inovação entre deeptechs e a necessidade de equidade racial

Um dos pilares fundamentais para o desenvolvimento social e econômico de um país está na interconexão do sistema de inovação com suas transformações, envolvendo governo, indústria e academia.

A inovação, nesse cenário, representa a habilidade de agregar valor a produtos e processos por meio da aplicação de novos conhecimentos adquiridos provenientes de pesquisas científicas. Destaca-se que a propagação de inovações ocorre por meio de cinco grupos distintos de pessoas: os inovadores, primeiros adotar, maioria inicial, maioria tardia e os retardatários.

No contexto de inovação, as startups fundamentadas em desenvolvimento científico e tecnológico, também conhecidas como deeptechs, são uma aposta para resolução de problemas complexos da sociedade, tais como mobilidade urbana, aquecimento global, tratamento de doenças, e desenvolvimento industrial.

A Unesco enfatiza, desde 2017, a importância de líderes governamentais, empresariais e da sociedade civil reconhecerem o investimento no desenvolvimento humano como parte essencial para construir uma nação justa e competitiva.

Assim, a inovação deve ir além do desenvolvimento de tecnologias, visando estabelecer relações mais equitativas como elementos fundamentais para o progresso tecnológico e socioeconômico. Uma inovação disruptiva, a saber, é a inserção da equidade racial como tema central nos processos de gerenciamento estratégico de qualquer programa de inovação.

O estudo científico realizado por Hofstra e colaboradores em 2023, com o título The Diversity-Innovation Paradox in Science [O paradoxo diversidade-inovação na ciência, em inglês], evidencia que ambientes mais diversos geram inovação.

O estudo sobre "Pactos Narcísicos no Racismo: Branquitude e poder nas organizações empresariais e no poder público", da dra Cida Bento, colunista da 💥️Folha, descreve o conjunto de ações que favorecem pessoas brancas no mercado de trabalho, incluindo o silenciamento e a invisibilidade em relação à questão racial, explicitando a falta de oportunidades para pessoas negras em todo o segmento da inovação.

Refletindo sobre essa questão, a pesquisa do BlackRocks Startups e da Bain & Company em 2023, revelou cerca de 71% dos principais agentes do ecossistema de inovação do Brasil não possuem nenhuma pessoa negra em seu time.

Outro ponto de destaque é que pessoas negras recebem menos investimentos, menos apoio de aceleradoras e suporte de outros agentes de fomento em comparação a pessoas brancas, sendo a diversidade racial no ecossistema de inovação considerada inexistente e sem esforços para mudar essa realidade, fato afirmado por 91% dos entrevistados.

É preciso insistir no questionamento: se a inovação e a equidade trazem benefícios ao desenvolvimento econômico e social, por que ainda os dados refletem a exclusão marcante de pessoas negras neste setor?

Seriam as pessoas promotoras de inovação, que estruturam e participam de toda a cadeia produtiva neste segmento, o último grupo a adotar inovação e equidade? Ou talvez, seriam estes parte do grupo retardatário na propagação e incorporação de inovações?

Convém evidenciar, que essas práticas de maior aceitação de pessoas brancas no mercado de trabalho ocorrem devido ao racismo e, se relacionam ao conceito de salário público e psicológico, descrito por Du Bois em 1935.

As recorrentes práticas de exclusão de pessoas não brancas em posições decisivas impactam diretamente na definição de ações prioritárias para um desenvolvimento mais equitativo e inclusivo. A análise desses modelos estratégicos de inovação no Brasil revela a necessidade urgente de mudanças para promover a equidade racial em todos os aspectos do ecossistema de inovação.

O editor, Michael França, pede para que cada participante do espaço "Políticas e Justiça" da 💥️Folha sugira uma música aos leitores. Nesse texto, a escolhida por Jorge Costa Silva Filho foi "Moleque Atrevido", de Jorge Aragão.

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