Confissões de uma viciada em café

Já tive muitos vícios. Na adolescência, não conseguia atravessar uma tarde de estudos sem um pedaço de chocolate. Na faculdade, precisava de um cigarrinho de artista para relaxar todas as noites. Depois, veio a nicotina, o pior dos vícios, que esculhambou a minha saúde por duas décadas. Passei perto de me viciar em álcool. Em seguida caí na sarjeta daquele refri estimulante, cheio de açúcar ou aspartame que, durante anos, bebi todos os dias.

Nos últimos tempos, achei que estava livre. Fazendo ioga, meditação, toda natureba, assumi que finalmente era uma mulher sem amarras químicas. Eis que viajei para um lugar isolado, onde o homem ainda não semeou seus quiosques. E, ao acordar, descobri que não havia onde tomar café.

Pensei que o pior seria aguentar a minha sonolência, já que meu cérebro está acostumado a um peteleco com leite todas as manhãs. Mas, mesmo bem desperta, ao longo do dia segui toda querendona, cheirando as portas das poucas casinhas pelas quais passávamos na esperança de que alguém estivesse coando um e me oferecesse uma xícara.

Tal qual Lou Reed na música "I’m waiting for my man", em que ele conta esperar por um traficante com "twenty-six dollars in my hand", eu já separava uma nota de dinheiro, pronta para gratificar quem me salvaria daquela fissura. Mas essa pessoa não apareceu.

Nesse dia e nos seguintes, senti o preço da abstinência: dores fortes de cabeça e uma fadiga chata, que não condizia com meu estado de ânimo pela viagem. Além de uma sensação de estar mais lenta, dispersa, rendendo menos —mas para quê render se estava de férias?

O que você está lendo é [Confissões de uma viciada em café].Se você quiser saber mais detalhes, leia outros artigos deste site.

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