Evangélicos não são bloco único e caricatura do crente careta é erro, diz jornalista

Não há nada de monolítico na ascensão das igrejas evangélicas brasileiras durante as últimas décadas. Apesar da popularidade e da influência de alguns pastores mais conhecidos, trata-se de um fenômeno complexo, altamente pulverizado e em constante transformação, mostra "O Púlpito", novo livro da jornalista Anna Virginia Balloussier.

Embora a repórter da Folha tenha se especializado na cobertura das relações entre o movimento evangélico e os bastidores da política há mais de dez anos, a obra dá igual peso aos aspectos sociais, comportamentais e até econômicos do crescimento dessa comunidade diversa.

Com isso, caem por terra alguns estereótipos, a começar pela "caricatura do crente careta e severo, avesso a qualquer coisa que não seja a graça divina", diz ela. Balloussier descreve as transformações no meio evangélico com bom humor e alguma dose de ironia, algo que, para a autora, é bastante comum entre os "crentes" de hoje.

"O que não pode é dar a entender que se está a rir deles, e não com eles", explica ela. "Como circulo há bastante tempo nas igrejas, posso me dar essa liberdade com pessoas mais próximas, que sei que não se incomodam, pelo contrário, são as primeiras a usar o humor para falar de si."

Essa combinação estranha, ao menos para quem está de fora, de intensa devoção ao texto bíblico, de um lado, e irreverência e flexibilidade, de outro, aparecem nos mais diversos aspectos da expansão evangélica.

Nesse cenário cabem desde a criação de produtos eróticos especialmente dedicados a apimentar o casamento (fielmente monogâmico, é claro) das "irmãs" até a disputa pelo filão das feiras de produtos religiosos, um mercado no qual há pessoas sedentas para consumir livros, moda e música pensados para a visão de mundo delas.

E acontece ainda a convergência, em diversos casos, da pregação cristã com a linguagem dos "coaches", eivada de ideias de autoajuda e busca de ascensão pessoal.

Tudo isso começa a fazer um pouco mais de sentido quando se consideram as transformações demográficas pelas quais a tradição evangélica passou conforme foi deixando de ser minoritária no Brasil, diz Balloussier.

"O perfil evangélico começou mais branco, porque era a religião dos imigrantes protestantes vindos da Europa e dos Estados Unidos. Mas a presença na população ainda era residual. Sobretudo depois do pentecostalismo, os evangélicos foram se tornando cada vez mais a cara da base brasileira", resume.

"Hoje a maioria nas igrejas é negra, feminina e vinda de classes baixas. A questão é entender por que essa religião se popularizou tanto nas periferias. Diria que tem muito a ver com os laços comunitários que fornece, e também com perspectivas de mobilidade social: com a ajuda dos irmãos, o fiel quer prosperar."

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