Lixo vai ser motor do biometano, antes do esterco e da cana, diz CEO de aterros sanitários; veja vídeo
Preparada para investir mais de R$ 1 bilhão em estruturas de produção de biometano, a empresa de tratamento e destinação de resíduos Orizon, que transforma aterros sanitários em grandes complexos com captação de biogás e geração de energia, prevê que o lixo vá ultrapassar a cana-de-açúcar e o esterco da agropecuária como principal propulsor do combustível nos próximos anos.
Milton Pilão, CEO da Orizon, defende que a geração de biometano nos aterros é mais propícia a curto prazo porque não tem as restrições de sazonalidade da cana, já que o lixo é gerado diariamente pela população, e os aterros estão mais bem posicionados do que as fazendas para escoar o combustível na rede de distribuição do gás.
"Logo, sobra o biometano dos aterros. Não temos sazonalidade porque o lixo é gerado todo dia. E não tem desafio tecnológico. É só uma questão de colocar as unidades para operar. Então, nos próximos cinco anos, acho que os aterros serão o grande ramp-up [evolução da produção] do biometano", diz.
A empresa tem hoje 16 complexos, chamados de ecoparques, onde também abriga tecnologias de triagem para reaproveitamento de material reciclado, compostagem para fertilizantes e combustível derivado de resíduo.
Pilão diz que a meta da empresa é continuar comprando aterros, tanto prontos quanto em fase final de licenciamento, e demonstra otimismo ao falar das dificuldades que o Brasil enfrenta para o fechamento total dos lixões.
"A consciência ambiental da população mudou. Além disso, a regulação ficou mais forte depois do marco do saneamento. Apesar de não termos conseguido fechar todos os lixões de 2023 a 2024, teve uma forte atuação dos órgãos reguladores", diz.
A Orizon vai comprar mais aterros para instalar projetos de biometano? Em quanto tempo e qual o investimento?
Temos hoje 16 ecoparques em 11 estados. O aterro é um negócio muito regional, porque o lixo não viaja. Tem uma barreira logística. O lixo que está sendo gerado aqui dificilmente consegue viajar mais do que cem quilômetros porque fica muito caro.
O Brasil gera 80 milhões de toneladas por ano, sendo que 40% ainda vão para lixão, e 60%, para aterros. A Orizon hoje recebe 10 milhões de toneladas dos 50 milhões que vão para aterros. É 20% do resíduo gerado pela população. A missão é continuar comprando aterros e aumentando a participação no volume de resíduo recebido.
A gente sempre começa adquirindo um aterro, seja pronto, seja em final de licenciamento, para depois transformar num ecoparque instalando indústrias [de energia, biometano, reciclagem e fertilizantes]. Não fazemos coleta, só destino e tratamento de resíduos.
Hoje, temos uma instalação de biometano operando no ecoparque de Paulínia. O planejamento é de R$ 1,2 bilhão para a construção de unidades de biometano em 11 dos nossos ecoparques nos próximos anos. A cada nova aquisição se retroalimenta o plano de investimento de biometano.
Por que o Brasil não consegue cumprir a meta de fechar os lixões?
O Brasil tem um histórico de pouca atenção e gasto para o destino e o tratamento do seu resíduo. No mundo todo, tem sistema de gerador pagador. Todo o mundo paga sua conta de água, luz, internet e a sua conta de destinação de resíduo. Somos um dos poucos países que não têm essa cobrança direto do gerador. Aqui, o responsável é a prefeitura, que é um ente público que tem problema de caixa.
As prefeituras priorizavam o gasto com asfalto, que aparece e dá ganho político. Antigamente, você não exigia muito do seu prefeito e do gestor local que fizesse a gestão do lixo de maneira correta. Mas a consciência ambiental da população mudou.
Além disso, a regulação ficou mais forte depois do marco do saneamento. Apesar de não termos conseguido fechar todos os lixões de 2023 a 2024, teve uma forte atuação dos órgãos reguladores.
A Orizon pode comprar aterro pronto e transformá-lo em ecoparque ou comprar um aterro que está quase em final de licenciamento, mas ainda não abriu as portas. Quando um aterro abre as portas, o Ministério Público é informado, vai às prefeituras e fala: agora tem aterro na região. Então, as prefeituras vão aos poucos migrando, fechando seus lixões, porque elas não têm mais a bengala de dizer que estão fazendo irregularidade de manter o lixão aberto porque não têm para onde mandar o lixo.
No marco do saneamento, eu falei que ele ia demorar mais do que 2024, mas acho que tem todas as condições agora, pode ser em dois ou seis anos, de fechar todos os lixões que restam no país.
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Era uma bandeira do governo passado, do ex-ministro Ricardo Salles, que fez o programa Lixão Zero, mas não avançou, não?
Não avançou. A pauta do atual governo também está forte nisso. O secretário [de meio ambiente urbano] Adalberto [Maluf] colocou claramente que a ministra Marina Silva deu a ele uma pauta. Aliás, ele está pedindo às associações do setor que mandem estudos sobre quantos aterros são necessários para fechar os cerca de 2.000 lixões.
O jeito de resolver é um pouco de tudo o que eu falei aqui, mas precisa ter aterro nas regiões. Se não tiver um aterro, não adianta ter a fonte pagadora, a intenção do gestor e o regulador apertando. E aterro não é algo que brota em um mês.
É quase como o processo de licenciamento de hidrelétrica, porque passa por Iphan, avaliação do ar, do solo, do impacto viário. E isso não é algo da burocracia brasileira. Nos Estados Unidos, para licenciar um aterro, também demora.
Quanto tempo dura um aterro?
A licença ambiental não é por prazo. É por volume. O projeto apresentado no processo de licenciamento mostra como o aterro vai avançar na volumetria. A vida útil dele é calculada conforme o tempo em que ele vai atingir sua capacidade.
Hoje, os nossos 16 aterros têm entre 25 e 30 anos de vida útil para a frente. Eu brinco que a gente não vai atingir esse final de vida útil nunca porque ao longo dos próximos anos eu vou diminuir o volume aterrado [ao investir em processos como reciclagem]. Dentro de dez anos, eu acho que os nossos aterros vão ser hubs de recebimento de resíduo, não mais de aterramento. Vai aterrar só o rejeito ou só um percentual muito pequeno do resíduo recebido lá.
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