Longe vá, temor servil

Nenhuma organização criminosa subsiste hoje sem lavagem de dinheiro. E todo sistema de poder político precisa lavar a sua história das origens criminosas, assim como da eventual trilha corruptiva na estabilização de um Estado. Seja qual for sua natureza. O Vaticano tenta há muito tempo lavar a Igreja do sangue derramado no escravismo, na queima inquisitorial de milhões de mulheres e nos holocaustos de conquista, do mesmo modo que as antigas potências coloniais, fazendo penitências. Ética hipócrita do arrependimento.

Na memória dos 60 anos do golpe cívico-militar de 64 pesam sobre a consciência coletiva frases de síntese como a do general ao presidente militar: "As coisas estão melhorando depois que começamos a matar". Impossível de esquecer, uma dívida do Estado à Nação jamais paga. Por isso, o silêncio como desculpa para não melindrar uma casta melindrosa é tentativa inequívoca de lavagem da história. Na galega, sem arrependimento, corroborada pela apatia da Comissão dos Mortos e Desaparecidos, já a caminho do que antigamente se chamava obra de Santa Engrácia: começa, não termina. Há nesse remancho laivos do "temor servil" que Evaristo da Veiga incrustou na letra do Hino da Independência, musicado por D. Pedro 1º. O temor de agora é o da honesta mediação entre passado e presente.

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