Godzilla, 70, está vivo nos conflitos de nosso tempo

Godzilla, o rei dos monstros, está de volta. Nos cinemas, certamente não contará com minha audiência, mas na vida real não há como ignorá-lo. Dependendo de onde se olhe, o bicho pode assumir as feições de Putin, o autocrata russo que se eterniza no poder. Eis ali o lagartão imparável a cruzar as fronteiras da Ucrânia provocando destruição e medo.

De outro ângulo, contudo, ele bem lembra Binyamin Netanyahu, o primeiro-ministro de Israel, que transforma Gaza em paisagem de ruínas e cadáveres.

Pode se parecer também com o cowboy americano e sua insistência no confronto para ser o gendarme do mundo –o que estava, aliás, em sua origem.

O primeiro filme do monstrão japonês foi lançado em 1954; está, portanto, fazendo aniversário de 70 anos. O atual Godzilla é uma evolução genética e tecnológica de seu antepassado, que se saiu bem nas telas, escapando do tatibitate visual provocado pela incipiente técnica do stop motion, que foi usada em "King Kong", de 1933.

Quem dava vida à criatura em seu nascimento era um ator, pobre coitado, que vestia a pesada fantasia, e chegou a ter de ser socorrido durante as filmagens após sofrer um desmaio causado por fadiga e calor.

Produzido menos de uma década depois do abominável ataque atômico dos EUA a Hiroshima e Nagasaki, o filme continha uma reflexão sobre a nova capacidade bélica das grandes potências, uma monstruosidade contra a qual não havia, como não há, meios militares de contenção.

Na história, o próprio aparecimento de Godzilla é decorrência de testes nucleares –os EUA na vida real estavam desde 1946 explodindo bombas de hidrogênio nas ilhas Bikini, o atol do Pacífico que acabou dando nome ao maiô de duas peças.

Não era uma incursão tipo trash ao mundo das bestas fantásticas com o intuito de atrair público às salas de cinema de maneira apelativa. Tinha uma intenção, digamos, filosófica. Expressava os temores de uma época, quando se anunciava uma nova ordem mundial marcada pela polarização EUA-URSS.

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