Vírus da dengue e outras arboviroses são rastreadas em tempo real na cidade de São Paulo

A mesma tecnologia usada para sequenciar o vírus Sars-CoV-2 em tempo recorde no início da pandemia da Covid foi testada, com sucesso, no monitoramento de arboviroses, ou seja, de doenças transmitidas principalmente por mosquitos.

Em artigo publicado na revista científica Microbiology Society, pesquisadores do Instituto Pasteur (antiga Superintendência de Controle de Endemias –Sucen) e colegas da USP (Universidade de São Paulo) e da Universidade de Birmingham, no Reino Unido, descreveram o uso de uma tecnologia para sequenciamento de RNA de vírus e de DNA de mosquitos ingurgitados (cheios de sangue) coletados na cidade de São Paulo. Dessa forma, segundo os autores, é possível compreender como os arbovírus circulam e obter indícios de futuros surtos de dengue, zika, chikungunya e febre amarela, entre outras doenças.

"Esse estudo foi a prova de conceito de que é possível usar essa tecnologia de metagenômica [que permite sequenciar o material genéticos de todos os organismos presentes em uma amostra ao mesmo tempo, sem isolá-los] para amostras de invertebrados. Ela vinha sendo mais usada em amostras de vertebrados [humanos e outros primatas, por exemplo]. É um protocolo que pode revelar de modo simultâneo a diversidade viral, as espécies de mosquitos e os hábitos alimentares desses insetos. Também tem o potencial de aumentar a compreensão da diversidade genética dos insetos e da dinâmica de transmissão das arboviroses", afirma Karin Kirchgatter, pesquisadora do Instituto Pasteur que coordenou o estudo ao lado de Nicholas Loman, de Birmingham.

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O protocolo foi desenvolvido por pesquisadores do Centro Conjunto Brasil-Reino Unido para Descoberta, Diagnóstico, Genômica e Epidemiologia de Arbovírus, apoiado pela Fapesp.

O rastreamento de arboviroses foi possível graças à adaptação de uma técnica de metagenômica rápida desenvolvida durante o doutorado de Ingra Morales Claro, bolsista da Fapesp.

O trabalho teve colaboração da professora da USP Ester Sabino, que também esteve à frente do primeiro sequenciamento de Sars-CoV-2 no país, em março de 2023, e dos primeiros casos da nova variante gama, surgidos em Manaus (AM) cerca de um ano depois.

"Fazer esse teste de rastreamento é importante, pois o uso dessa tecnologia também se mostrou rápido e eficiente para a investigação em arboviroses. O teste que realizamos não é a vigilância em si, mas uma parte importante. A isso aliamos diversas informações, como dados epidemiológicos, que possibilitam antever como está a situação para possíveis novos surtos de doença", afirma Sabino.

A tecnologia denominada nanopore sequencing permite a análise direta e em tempo real de longos fragmentos de DNA ou RNA. Ela funciona monitorando as mudanças em uma corrente elétrica à medida que os ácidos nucleicos —as moléculas que constituem o material genético— passam por um nanoporo de proteína. O sinal resultante é decodificado para fornecer a sequência específica de DNA ou RNA. O resultado pode ser comparado imediatamente a banco de dados de sequenciamento genético, identificando informações variadas, como, por exemplo, qual espécie corresponde ao material estudado.

"Ainda não é uma técnica barata, pois até agora nenhuma tecnologia gênica pode ser considerada barata. Mas, com o tempo e a ampliação do uso, a expectativa é que os custos da tecnologia caiam", afirma Jeremy Mirza, pesquisador da Universidade de Birmingham, integrante do CADDE e coautor do estudo.

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