Dólar encosta nos R$ 5,08 após dados fortes de inflação nos EUA; Bolsa recua
O dólar saltou 1,43% e terminou o dia cotado a R$ 5,077 após a divulgação de dados de inflação nos Estados Unidos, que vieram acima do esperado, num momento em que as autoridades do Fed (Federal Reserve, banco central americano) dão sinais de que devem manter os juros altos por mais tempo no país.
Com a alta desta quarta, a moeda americana renovou seu maior valor do ano e segue operando nos maiores patamares desde outubro de 2023. Na máxima do dia, o dólar atingiu os R$ 5,085.
O CPI (Índice de Preços ao Consumidor, na sigla em inglês) americano subiu 3,5% em março, acima das projeções de 3,4%, e acelerou pelo segundo mês consecutivo, apontando resiliência da alta de preços no país. Em fevereiro, o índice ficou em 3,2%.
O Departamento de Trabalho dos EUA também afirmou que o núcleo da inflação, que exclui variações de alimentos e energia, permaneceu em 3,8%. Economistas esperavam uma taxa de 3,7%.
Os novos dados desencadearam um salto nos rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA e pesaram contra a Bolsa brasileira. Segundo dados preliminares, o Ibovespa terminou o dia em queda de 1,41%, aos 128.050 pontos. Os índices de ações americanos também tiveram queda expressiva.
O economista-chefe do C6 Bank, Felipe Salles, destaca que a inflação de serviços no país segue sendo pressionada pelo mercado de trabalho aquecido, o que representa um obstáculo para a convergência para a meta de 2% do Fed.
"A inflação dá sinais de estar se estabilizando em um patamar elevado, mesmo com juros no maior nível dos últimos 20 anos. Esse cenário não é condizente com o início do ciclo de cortes de juros no primeiro semestre", afirma Salles.
O C6 projeta que devem ocorrer apenas dois cortes de juros nos Estados Unidos neste ano —a última sinalização do banco central americano foi de três cortes. A hipótese de que o ciclo de afrouxamento seja adiado para 2025 não é descartada pelo C6.
Após a divulgação dos dados, operadores adiaram novamente suas apostas sobre os juros americanos. Agora, a maior parte do mercado acredita que a primeira redução deve ocorrer apenas em setembro.
"O cenário reforça que a conclusão do processo de desinflação segue sendo um grande desafio para a economia americana. A leitura de hoje anda na direção contrária da necessidade de confiança extra no processo de convergência para a meta de inflação que vem sendo declarado pelos membros do Fomc [comitê de política monetária] desde o início do ano", afirma Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad.
Já Greg Wilensky, chefe de renda fixa dos EUA na Janus Henderson, diz que o movimento massivo no rendimento dos títulos parece uma reação exagerada ao aumento da inflação. Ele diz, ainda, que a possibilidade de corte nas taxas em junho não deve ser excluída.
No Brasil, a inflação oficial, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), desacelerou a 0,16% em março, após marcar 0,83% em fevereiro, apontou nesta quarta o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O novo resultado ficou abaixo da mediana das projeções do mercado financeiro. Analistas consultados pela agência Bloomberg esperavam variação de 0,25% em março.
"O IPCA de março trouxe boas perspectivas para a inflação e deve ser bem recebida pelos formuladores de política monetária brasileiros", dizem analistas do Bank of America.
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