Hora de pagar a dívida do clima

Em novembro deste ano, as montanhas do Cáucaso e as praias do Brasil serão palco de um ajuste de contas crucial para o futuro da espécie humana. Em Baku, no Azerbaijão, a 29ª Conferência das Partes da Convenção do Clima da ONU (COP29) terá de aprovar uma nova e radical meta de financiamento do Acordo de Paris, sem a qual a transição energética necessária para nos salvar da crise climática não ocorrerá. Ao mesmo tempo, os líderes do G20, reunidos no Rio de Janeiro, precisarão chegar a um acordo político que garanta que o mundo terá instituições financeiras capazes de entregar essa nova meta.

Há mais de três décadas o financiamento é o elefante na sala do combate à crise do clima. Os países do Norte Global, causadores históricos do problema, cobram corte de emissões nos países do Sul, mas recusam-se a pagar por isso, o que trava as políticas de energia limpa e desestimula a ambição. No ano que vem, a COP30, no Brasil, deve marcar um novo ciclo de metas alinhadas à necessidade de estabilizar o aquecimento global em 1,5ºC neste século. A chance de que isso ocorra sem dinheiro na mesa é zero.

Em Paris, em 2015, os ricos prometeram (e jamais entregaram) US$ 100 bilhões por ano entre 2023 e 2025, uma fração do custo estimado da transição —US$ 5,8 trilhões até 2030, pelo menos. Um novo objetivo de financiamento, adequado à realidade, deveria entrar em vigor a partir de 2025. Para isso, precisa ser aprovado na COP29. Mas o contexto institucional atual dificulta a tarefa.

As instituições financeiras criadas no pós-guerra, como o Banco Mundial e o FMI, reproduzem a lógica colonial que divide o mundo em norte e sul e aprisiona este último em dívida e desigualdade. Segundo o FMI, apenas em 2022 o mundo em desenvolvimento pagou US$ 443 bilhões em juros de dívida externa. O estoque total de dívida chega a US$ 1,1 trilhão.

O aquecimento descontrolado da Terra adiciona uma camada de perversidade a essa situação: cada vez mais, países pobres e de renda média precisam recorrer a empréstimos para lidar com os impactos de eventos extremos. Quanto mais endividados, menos capazes de cortar emissões e de se adaptar eles se tornam.

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