Tênis com placa de carbono é doping tecnológico?

Dia desses eu estava no ônibus, aqui em Londres, indo participar de uma meia maratona. Um homem entrou e eu não consegui parar de olhar para o tênis que ele usava: amarelo fluorescente, enorme, sola grossa, parecendo uma lancha. Ele era alto e magro e, fosse um tempo atrás, poderia ser confundido com um corredor profissional. Mas ele era mais um amador, que nem eu, no transporte público a caminho da prova.

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Ele estava com o Nike Alphafly 3, que aqui custa £ 284,99 (R$ 1.800). Esse é um dos chamados "supertênis", que não são mais restritos a corredores de elite e se tornaram febre. Em linhas gerais, têm uma placa de fibra de carbono na entressola que ajuda a poupar energia, auxilia na propulsão e, portanto, na performance. Feitos principalmente para provas, dão a sensação de estar com molas debaixo dos pés.

Todos os campeões de maratonas usam um supertênis. O queniano Eliud Kipchoge teve pares personalizados para ele em 2017, na primeira tentativa de correr a distância de uma maratona em menos de 2h, e em 2023, quando conseguiu o feito.

Com outras marcas rapidamente desenvolvendo seus modelos, a World Athletics, federação internacional de atletismo, interveio. Em 2023, estabeleceu regras para competições profissionais: sola com no máximo 40 mm de espessura e apenas uma placa e proibição do uso de protótipos. O tênis de Kipchoge de 2023 hoje é banido para a elite.

Na prova olímpica em Paris-2024, os atletas no pódio certamente estarão com o último modelo de seus patrocinadores. Só que, na maratona, existe uma marca mágica a ser batida: qual ser humano vai correr abaixo de 2h em uma prova oficial (a de Kipchoge não conta porque foi um projeto feito para a quebra do recorde)?

Os supertênis impulsionam o debate entre quem acha que eles vão banalizar recordes mundiais e quem defenda que ajudam a deixar a modalidade mais atraente. Li uma entrevista recente da britânica Paula Radcliffe, ex-recordista mundial da maratona, dizendo que se orgulha de sua marca ter sido alcançada com um tênis das antigas.

Outros esportes lidam com dilemas parecidos. Quem se lembra dos maiôs tecnológicos nos Jogos Olímpicos de Pequim em 2008, quando atletas vestindo o LZR Racer da Speedo ganharam 98% das medalhas na natação? Modelos feitos de poliuretano, que ajudavam na flutuação e repeliam água, acabaram banidos pela Federação Internacional de Natação.

No esporte profissional, o debate é fundamental e é preciso ter estudos científicos e regulamentações.

No caso de nós, mortais, amadores, não vejo motivo nem para ter implicância com os tênis de placa nem para achar que são a salvação. Muita gente prefere os modelos "tradicionais" ou não quer investir tão alto em um calçado que terá poucos usos, e tudo bem.

No próximo domingo (21), vou correr a Maratona de Londres com um supertênis. Testei nos treinos e achei confortável. Muitos participantes farão o mesmo —seja para tentar recordes pessoais ou para completar a tarefa hercúlea de percorrer os 42km195m com menos dores no corpo.

Eles são um doping tecnológico? Na minha opinião, não, porque há regras. Se alguém discorda delas é outra história. Não há como fugir da tecnologia.

Por fim, de nada adianta um bom tênis se você não fizer a sua parte. Ele pode ajudar, mas você ainda precisa correr toda a distância, e isso não vai acontecer sem muita dedicação e treinamento.

O que você está lendo é [Tênis com placa de carbono é doping tecnológico?].Se você quiser saber mais detalhes, leia outros artigos deste site.

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