A Corte Marcial do Navio da Revolta é metáfora sobre loucura e cinismo

É no pouco glamouroso cenário de um tribunal militar da Marinha dos Estados Unidos que transcorre quase toda a ação de "A Corte Marcial do Navio da Revolta", derradeiro trabalho de William Friedkin, morto em agosto de 2023 aos 87 anos.

O filme chega ao Brasil em streaming e fecha um ciclo curioso na obra do cineasta. Seu primeiro longa foi o documentário televisivo "O Povo versus Paul Crump", de 1962, que tratava de um homem condenado à morte por um crime que Friedkin, com 26 anos, acreditava não ter sido cometido pelo acusado.

Em outras três ocasiões, Friedkin, notabilizado pelo sucesso de "O Exorcista", de 1973, desenvolveu dramas nervosos sobre verdade, farsa e retórica a partir de cenários jurídicos. Em 1987, fez "Síndrome do Mal", sobre um psicopata no banco dos réus. Em 1997, veio o telefilme "12 Homens e uma Sentença", com uma dúzia de jurados numa sala para decidir o destino de um adolescente acusado de matar o pai. Em 2000, "Regras do Jogo" tratou de militares às voltas com decisões legalmente questionáveis.

"A Corte Marcial do Navio da Revolta" é extensão natural a algumas preocupações de Friedkin, especialmente sua obsessão pela ambiguidade e incerteza nas relações humanas. Mais do que falar de militarismo, o que há neste filme-testamento é simbolicamente um palco, uma plateia e diversos atores que entram e saem de cena no intuito de convencerem os interlocutores da verdade de suas palavras.

O cineasta compreende que um tribunal, para além de julgamentos, condenações e absolvições, é principalmente espaço de performance. Quem por ali circula quer única e exclusivamente convencer os demais do que está dizendo. A verdade, então, é manipulável, relativa e nem sempre bem-vinda. Mas como atestá-la? Eis o desafio sobre o qual o filme assume os riscos e quer capturar a atenção.

O filme de Friedkin adapta uma peça de teatro de 1953 escrita por Herman Wouk, que por sua vez transpunha aos palcos o seu romance de lançado no ano anterior. Foi o livro que serviu de base ao clássico "A Nave da Revolta", de 1954, com Humphrey Bogart no papel de Queeg.

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