Júlia sonhou com campos de futebol só para meninas e faturou R$ 3 milhões em 2023

Quando explicou seus planos para possíveis investidores, Júlia Vergueiro, 34, ouviu a pergunta que já esperava.

Aquele plano não era definitivo, não é? Se não desse certo, poderia haver uma flexibilização?

"Eu bati o pé que não. O pensamento sempre foi gerar recursos e dar lucro, mas ter um propósito, um ideal como pano de fundo", explica ela.

Júlia é uma das criadoras da Nossa Arena, espaço na Água Branca, zona oeste de São Paulo, em que quatro campos de areia e três de society são alugados apenas para mulheres interessadas em jogar futebol. Oitocentas delas os utilizam por semana.

No final do ano passado, pela primeira vez foram pagos dividendos aos investidores. O faturamento foi de R$ 3 milhões.

"A gente fez um DRE [demonstração de resultado de exercício] em que 2,8% do empreendimento valia R$ 50 mil. Não fizemos nova avaliação para dizer quanto valem esses 2,8% hoje em dia. Mas quem investiu R$ 50 mil já recebeu seu dinheiro de volta", diz.

A Nossa Arena nasceu da vontade de Júlia de dar às mulheres um espaço seguro para o futebol, sem preocupações em competir com homens pelo uso dos campos, e da visão de que existia um mercado a ser explorado.

Há também, como nas demais quadras de society, área de lazer com churrasqueiras, bares e mesas de sinuca. Servem para o que se convencionou chamar, no mundo do futebol, de "resenha". A diversão pós-jogo.

Júlia diz que quando há homens e mulheres, surge a tendência de eles acharem um bom momento para passar cantadas nelas. E as meninas querem apenas se divertir, sem qualquer outra intenção.

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Só há um grupo masculino que pode pisar nas quadras da Nossa Arena. O Sport Clube T Mosqueteiros tentou entrar em contato com a Nossa Arena porque estava desesperado por um espaço para jogar. A primeira resposta foi negativa. Isso mudou quando a história da equipe trans chegou a Júlia. Ela cedeu de graça um campo para eles treinarem duas vezes por semana.

"A gente tem entre 20 e 25 meninos. Sabemos o que as meninas sofrem, o que é ser excluído e não ter lugar para praticar. Passamos por um processo que é parecido com o delas. Fomos mulheres, reconhecidos dessa forma. Só que decidimos fazer a transição e sofremos uma exclusão dupla", afirma Bernardo Gonzales, 35, um dos líderes do time.

Por causa deles, o Nossa Arena construiu banheiro não binário. Houve estranheza por parte das mulheres, no início. Depois se acostumaram, diz Gonzales.

"A gente aprende muito com eles. Vemos a necessidade de um local que não seja tóxico também para o coletivo trans", afirma Júlia.

Se fossem pagar, teriam de desembolsar entre R$ 200 e R$ 280 pelo direito de usar um dos campos de society ou um valor entre R$ 700 e R$ 870 pelo plano mensal na Nossa Arena. Não havia nenhuma condição de os jogadores do T Mosqueteiros pagarem essa quantia.

"Os lugares gratuitos são muito disputados. A gente tentou ir a outros locais porque temos equipes de basquete e handebol. Nos espaços públicos são sempre muitos homens e algumas mulheres. Os caras vão tomando o espaço", diz Gonzales.

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