A perigosíssima liberdade

Portugal esteve em festa esta semana. Celebrou-se meio século de liberdade. Há 50 anos, no dia 25 de abril, um grupo de militares derrubou a ditadura e o povo saiu imediatamente à rua, apoiando a revolução.

Os portugueses devem a liberdade ao Movimento das Forças Armadas e ao povo. Ora, acontece que eu não gosto de militares. Não gosto da ética militar, nem da brutalidade, nem daquele fanatismo patriótico que é, com muita frequência, trágico.

E, aqui para nós, também não gosto do povo. Não gosto da irresponsabilidade da multidão, nem daqueles que parecem ser os dois principais fatores de interesse da massa popular: aglomerar-se em torno de acidentes rodoviários e insultar os carros que levam os suspeitos para o tribunal.

No entanto, foram os militares e o povo que fizeram o 25 de Abril. Às vezes, dá-se o caso de um casal muito feio ter um filho muito bonito. Parece-me que foi o que aconteceu, embora nem toda a gente esteja convencida da beleza da criança. É quase milagroso que o 25 de Abril celebre 50 anos, dado o reduzido número de apreciadores da liberdade. Somos tão poucos que às vezes parece que estamos impondo abusivamente a nossa vontade aos outros.

Não existe propriamente unanimidade em torno da liberdade. Há quem não goste, o que se compreende. A liberdade é perigosa e desagradável. Implica que os outros digam o que querem e vivam como querem. E há coisas que umas pessoas não gostam de ouvir e maneiras de viver que outras pessoas condenam.

Mulheres votam e trabalham, pessoas do mesmo sexo se casam, gente com convicções bizarras diz o que lhe apetece. Há quem não goste deste estado de coisas e pretenda limitar a liberdade. Não é um desejo muito poético.

O que você está lendo é [A perigosíssima liberdade].Se você quiser saber mais detalhes, leia outros artigos deste site.

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