Até onde vai o poder dos juros no combate à inflação dos EUA?

A sequência de números de inflação nos Estados Unidos mais altos do que o esperado deixou os mercados agitados, e os investidores têm ajustado constantemente suas expectativas em relação às taxas de juros.

O problema com todas essas revisões frenéticas é que elas conferem uma incisividade à política monetária que ela na verdade não possui —especialmente nesta fase da batalha contra a inflação.

A definição das taxas tornou-se a ferramenta principal para orientar as economias, já que a política fiscal é politizada e limitada por restrições orçamentárias, e reformas com foco na oferta levam mais tempo do que o ciclo eleitoral para dar frutos —embora ambas sejam, sem dúvida, instrumentos mais afiados.

Decisões de tributação e gastos podem ser direcionadas, e seu impacto na demanda também é mais rápido. Reformas sobre a propriedade, trabalho e capital podem impulsionar a oferta a longo prazo.

No entanto, o Fed (Federal Reserve, banco central americano) historicamente desempenhou um papel importante em manter a inflação sob controle. Taxas mais altas ajudaram a reduzir o crescimento dos preços de patamares recentes. Mas precisamos ser realistas sobre o que as taxas conseguirão alcançar agora.

Em primeiro lugar, o chamado mecanismo de transmissão —ou como as taxas afetam a demanda— pode ser mais fraco neste ciclo. Dados da Federal Housing Finance Agency, agência responsável por regular empréstimos, mostram que, entre 1998 e a pandemia de Covid-19, a parcela de americanos com financiamentos imobiliários com taxas mais de um ponto percentual abaixo da taxa de mercado nunca ultrapassou muito os 40%. No entanto, no final de 2023, cerca de 70% dos detentores de hipotecas tinham taxas mais de três pontos abaixo do oferecido no mercado para um novo empréstimo. Assim, taxas mais altas por mais tempo podem ser fúteis.

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O impacto da política monetária também pode ser amortecido conforme as economias se tornam mais intensivas em serviços. Isso porque os setores de produção de bens e construção são mais intensivos em capital e mais prontamente afetados por mudanças nas taxas.

Uma sensibilidade menor para as taxas de juros na economia implica que autoridades precisam esperar mais tempo para que os aumentos já feitos tenham efeito, ou até os reforçar. Mas alguns setores são atingidos por taxas altas mais rapidamente e com mais inten sidade que outros. Pesquisas do Fed de São Francisco mostram que componentes da cesta de gastos, incluindo transporte e serviços financeiros, são os mais reativos às taxas mais altas.

Atualmente, os itens do índice de inflação dos EUA cujos preços resistem em desacelerar são os seguros de casa e veículos. Ambas altas são parte dos choques de oferta da pandemia que ainda está em vigor, com a redução no ritmo da construção civil e peças de veículos em escassez.

O aumento dos seguros de carro agora é resultado de uma alta dos custos dos veículos no passado. Assim, a demanda não é um problema central, e há pouco que os juros altos possam fazer.

Isso levanta mais problemas. Se as taxas precisarem permanecer mais altas para dar conta desses componentes menos sensíveis a elas, isso aumenta o risco do estresse excessivo a ser colocado em setores que respondem melhor.

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Eles podem ser excessivamente pressionados, quebrar e se desconfigurar de forma incontrolável pela economia. Isso também significa que algumas partes da população assumem um fardo maior.

Domicílios mais pobres —que têm grandes compromissos de gastos com sua renda regular e ativos líquidos— podem estar particularmente expostos ao risco de taxas.

Quebrar uma parte da economia para só então desacelerar o restante é uma característica da política monetária, não um erro dela. Historicamente, ciclos de aumento de taxas do Fed tendem a culminar em uma recessão ou crise financeira.

Alguns economistas sugerem que uma política monetária mais otimizada poderia limitar as ineficiências causadas pelas taxas de juros em diferentes setores, em vez de monitorar um índice de preços com pesos maiores atribuídos a indústrias maiores, mais resistentes e em ascensão.

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De qualquer forma, a política monetária é uma ferramenta geral. Ela não pode controlar a demanda de maneira rápida, linear ou direcionada. Outras medidas precisam compensá-la. Estimativas sugerem que fatores de oferta —sobre os quais as taxas têm pouca influência— estão contribuindo mais para inflação central dos EUA que a demanda.

Uma política fiscal mais rígida pode comprimir ainda mais a demanda. A construção de casas pode aliviar a inflação pegajosa de preços de abrigo. Ou podemos contar com taxas mais altas até que setores menos sensíveis a ela sejam atingidos, ou até que os mais sensíveis desmoronem e provoquem uma desaceleração mais ampla.

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