Expectativas de inflação desancoradas são preocupantes

As expectativas de inflação desempenham um papel crítico na eficácia da política monetária. É muito mais provável que um banco central seja bem-sucedido em alcançar uma inflação baixa e estável se conseguir ancorar as expectativas de inflação de longo prazo perto de seu objetivo de inflação. Isso porque estas afetam a inflação corrente por meio de seu impacto na fixação de salários e preços. Se os agentes econômicos acreditarem que choques exógenos que causem um desvio da inflação da meta tendem a se propagar de forma limitada, a ação do Banco Central no combate a pressões inflacionárias torna-se menos custosa.

É claro que credibilidade da autoridade monetária é crucial para a ancoragem das expectativas. No entanto, não menos importantes são o ambiente macroeconômico mais amplo, as características estruturais da economia e, em particular, a condução da política fiscal. Como a política fiscal impacta diretamente a demanda agregada e por conseguinte a inflação, se esta for percebida com expansionista em um horizonte longo, impactará as expectativas. O grau de confiança na sustentabilidade fiscal é outro ponto-chave: é improvável que as expectativas de inflação estejam bem ancoradas se houver temor de que a política monetária possa ser restringida pelo fato de que altas taxas de juros implicam em uma dinâmica pior para a trajetória da dívida pública.

Estamos, hoje no Brasil, com as expectativas desancoradas: as projeções de inflação da pesquisa Focus para os anos de 2025-26-27 estão descoladas da meta de 3% já faz alguns trimestres. No primeiro trimestre do ano passado, chegaram a 4%, com a discussão sobre uma eventual revisão para cima da meta. Depois de sua manutenção em 3,0%, as expectativas recuaram, mas não totalmente ficaram até recentemente 50 p.b. acima da meta pata os próximos 3 anos e nas últimas semanas, a expectativa de 2025 voltou a subir, chegando em a 3,60%. O que mais surpreende é que isto esteja acontecendo justamente quando a inflação corrente se realiza abaixo do esperado. Em geral, expectativas para um ano a frente, são bastante influenciadas pela inflação do ano em curso, pois quanto menor for esta, menor é a inércia para o ano seguinte.

Quando consideramos as inflações implícitas nos títulos indexados ao IPCA, vemos o mesmo movimento de desancoragem acontecer, inclusive para prazos mais longos. O que está por trás deste movimento, objeto de atenção especial nos discursos recentes dos membros do BC?

Primeiro cabe analisarmos por quê mesmo depois da manutenção da meta em 3%, as expectativas longas não convergiram para este valor. Algumas hipóteses possíveis:

1. Permanecem dúvidas sobre a condução da política monetária: será esta adequada para seu alcance, principalmente com a alteração da composição do Copom ao longo do tempo, em especial ao final de 2024, quando um novo Presidente do BC será escolhido?

2. O novo arcabouço fiscal e as metas de superávit não são suficientemente críveis para o alcance da estabilidade da dívida pública.

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