Sobrevivente de naufrágio de migrantes na África ainda é assombrado por memórias

À deriva no oceano Atlântico, os migrantes da África Ocidental recorreram a beber água do mar para saciar a sede insuportável. Então, começaram a morrer um por um.

Lidar com os corpos tornou-se um desafio diário para aqueles que ainda estavam vivos no barco de pesca de madeira colorido.

"Pensei que seria o próximo, que numa manhã, eu também estaria morto e no mar", conta Birane Mbaye, um dos 101 homens e meninos que partiram de uma vila de pescadores em um trecho selvagem da costa do Senegal em julho passado, esperando chegar à Europa.

Eles nunca conseguiram. De volta à Fass Boye, um aglomerado de prédios baixos de concreto cercado por um mosaico de campos e o oceano, Mbaye relembrou o calvário de cinco semanas e explicou por que arriscaria sua vida novamente por uma chance de proporcionar uma vida melhor para sua jovem família.

Ganhando tão pouco quanto 2.000 francos CFA (cerca de R$ 16) por dia como pescador contratado, Mbaye divide um quarto pouco mobiliado com sua esposa e filha de 1 ano na casa semiconstruída de seus pais. Eles dormem em um colchão no chão e se banham com água de uma chaleira plástica.

A pobreza arraigada e histórias de fortunas ganhas no exterior levaram Mbaye e um amigo próximo, Omar Seck, a se espremerem no barco com destino às Ilhas Canárias da Espanha, a cerca de 1.400 km de seu vilarejo.

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Um número recorde de pessoas tentou a perigosa travessia do Atlântico no ano passado, depois que outras rotas para a Europa através do deserto do Saara e do mar Mediterrâneo passaram a ser mais fortemente policiadas. Mais de 39.900 pessoas chegaram às Ilhas Canárias da África Ocidental, um recorde, de acordo com o Ministério do Interior da Espanha. A maioria era do Senegal ou de Gâmbia.

Mas barcos precários, falhas de motor e más condições climáticas são apenas alguns dos perigos que muitas vezes levam ao desastre. Estima-se que pelo menos 6.007 pessoas morreram nesta rota em 2023, de acordo com o grupo de direitos dos migrantes Caminhando Fronteiras. Outros provavelmente partiram e se perderam sem deixar rastros.

MEIOS DE VIDA PERDIDOS

Dezenas de barcos de pesca de madeira, conhecidos como pirogas, enfileiram a praia arenosa de Fass Boye, um sinal do papel central da pesca na economia local. Mas, como muitas comunidades costeiras, o vilarejo a cerca de 100 km ao norte da capital do Senegal, Dacar, viu centenas de seus moradores partirem em busca de mais oportunidades.

A diminuição da quantidade de peixes e o aumento dos custos de vida tornaram difícil chegar ao fim do mês, dizem os moradores. Eles culpam a pesca excessiva por parte de grandes embarcações estrangeiras com redes de arrasto e dizem que seus pequenos barcos não conseguem competir.

Mbaye, que está na casa dos 30 anos, afirma que começou a pensar em tentar a sorte na Europa após o nascimento de sua filha, Maguette, em abril do ano passado. Ele se preocupava com o futuro financeiro da família depois de gastar todas as suas economias em festividades tradicionais para marcar sua chegada.

Ele fala sobre sua empolgação em 10 de julho, quando ouviu que um barco partiria clandestinamente naquela noite. Ele e Seck correram para comprar arroz, biscoitos e água fresca para a viagem. Ele estava feliz por estar viajando com seu amigo. Eles se conheciam desde a infância, aprenderam a pescar juntos e estavam constantemente na companhia um do outro. A possibilidade de trabalhar como agricultores na Espanha dominava suas conversas há semanas.

Mbaye ligou para sua mãe pedindo para ela rezar por ele. Como último passo, ele tomou o que descreveu como um banho místico em água perfumada com ervas —tradição local destinada a afastar a má sorte.

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