Grande gargalo é como chegar e sair do RS, diz empresário sobre destruição das chuvas

A destruição na área de infraestrutura com as enxurradas desta semana espalha preocupação em setores da economia do Rio Grande do Sul.

As chuvas torrenciais provocaram deslizamentos de terra, arrancaram pontes e bloquearam estradas. O resultado foi a paralisação de diferentes rotas de transporte de mercadorias no estado.

O tempo e os recursos necessários para a reconstrução ainda são incertos, já que as inundações seguem afetando municípios gaúchos.

"O grande gargalo hoje é chegar e sair do Rio Grande do Sul", afirma Paulo Menzel, presidente da CâmaraLog (Câmara Brasileira de Logística e Infraestrutura), ao analisar os reflexos econômicos da tragédia.

O empresário define como "caótico" o cenário atual para a área de transportes no estado.

Segundo ele, no início da tarde desta sexta-feira (3), o único acesso rodoviário a Porto Alegre poderia ser feito por meio das BRs 101, que liga o Rio Grande do Sul a Santa Catarina, e 290, no trecho conhecido como Freeway, entre o Litoral Norte e a capital gaúcha.

"A questão é que isso quadruplica ou quintuplica a quilometragem, dependendo da rota", diz Menzel.

As fortes chuvas causaram nesta sexta uma enchente de proporções históricas em Porto Alegre, inundando a área central da cidade. Até as 18h, 39 mortes haviam sido confirmadas em municípios do estado, segundo balanço da Defesa Civil do Rio Grande do Sul.

O economista-chefe da Farsul (Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul), Antônio da Luz, afirma que a agropecuária com certeza terá prejuízos com as chuvas, "mas não do tamanho" dos verificados na área urbana de municípios devastados.

"A gente ainda não consegue mensurar o tamanho das perdas, porque tem muitos produtores que não conseguem nem chegar tão cedo às propriedades", diz.

"Onde vamos ter mais dor de cabeça? Na logística, porque a infraestrutura ficou afetada. É a questão de como fazer o produto chegar ao destino", completa.

O economista também afirma que os produtores locais precisarão de ações de auxílio do governo federal. "Não tem como tapar os olhos", diz.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) visitou o Rio Grande do Sul na quinta (2). O mandatário prometeu que não haverá falta de recursos para o estado, mas não detalhou como a ajuda financeira será direcionada. Há expectativa de que uma medida provisória seja editada para a liberação.

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Agricultores familiares também estão preocupados com o cenário. "O caminhão que recolhia o leite não está chegando ao produtor. O produtor está tendo de botar o leite fora", relata Carlos Joel da Silva, presidente da Fetag-RS (Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul).

"Tem também o impacto na criação de frangos e suínos, que é integrada. As empresas não conseguem chegar com a alimentação dos animais e nem conseguem tirá-los das propriedades", acrescenta.

De acordo com Silva, ainda não foi possível contabilizar os prejuízos para os pequenos agricultores porque o foco neste momento é salvar as pessoas das áreas de risco.

"Quando a água baixar, vamos ter uma noção maior, mas já sabemos que as perdas serão muito grandes", diz. "O impacto na infraestrutura é sem precedentes", completa Silva, citando os estragos em rodovias e pontes.

O Rio Grande do Sul responde por cerca de 70% da produção de arroz no Brasil. Em nota, o Irga (Instituto Rio Grandense do Arroz) afirmou que 82,9% das lavouras já foram colhidas. Restam em torno de 150 mil hectares.

"A região Central é a que apresenta menor percentual de área colhida, com 62%, restando cerca de 45 mil ha [hectares]. Essa é a região mais afetada com as enchentes", afirma o órgão, vinculado ao governo gaúcho.

Considerando que a chuva não parou, o difícil acesso a áreas afetadas e a falta de previsão de retorno à normalidade dos níveis de água, o Irga diz que não é possível informar ainda o tamanho das perdas.

"Essas lavouras restantes de arroz já haviam sido plantadas fora do período ideal. Naturalmente, apresentariam uma produtividade menor, já tinham sofrido com outras tempestades", aponta Evandro Oliveira, consultor da Safras & Mercado e especialista nas culturas de arroz e feijão.

"Os elementos que surgiram agora são um agravante para uma situação que já estava complicada", completa. Segundo o analista, os estragos no campo e as complicações na infraestrutura de transportes tendem a pressionar os preços do arroz.

O economista André Braz, do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), também considera que as fortes chuvas trazem riscos inflacionários.

Entre os itens ameaçados, o pesquisador cita os alimentos in natura, cujos preços costumam ser impactados de maneira mais rápida por choques climáticos.

"Pode ter impacto, sim, na inflação, principalmente de Porto Alegre, que é onde a gente mede a inflação [no Rio Grande do Sul]", avalia Braz.

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