Alívio com o Fed não autoriza leniência aqui

Mesmo representando hoje cerca de 20% do PIB mundial, os Estados Unidos continuam a ter influencia determinante no âmbito financeiro. Juros altos no país valorizam o dólar e fazem escassear fluxos de capital para outras economias, com consequências globais.

É o que tem ocorrido desde o início do ano, diante do acúmulo de evidências de que a economia americana permanece firme, com boa geração de emprego e renda —e, de outro lado, de que a inflação se mostra mais renitente em torno de 3% ao ano, acima da meta de 2% perseguida pelo Federal Reserve.

No primeiro trimestre, de fato, o núcleo do índice de preços ao consumidor (que exclui energia e alimentos) ficou acima da expectativa de analistas, na casa de 4% em termos anualizados.

A pressão não chega a interromper a tendência de desaceleração observada desde o começo de 2023, mas no mínimo coloca o Fed em compasso de espera.

Frustrou-se, assim, a expectativa de que haveria alívio iminente e substancial do custo do dinheiro no maior centro financeiro global. A taxa básica de juros se mantém em 5,25% ao ano, e os mercados apontam hoje para redução de apenas 0,5 ponto percentual em 2024, bem menos que a esperada há algumas semanas.

O resultado nos mercados financeiros é o fortalecimento da moeda americana, inclusive ante o real, e alta nos juros de longo prazo em outros países, fenômeno que também afeta o Brasil. Espera-se hoje que a taxa Selic caia para não menos que 10,5% anuais, cerca de 1 ponto percentual acima do que era esperado no início do ano.

Embora os mercados aqui também tenham reagido negativamente à decisão do governo petista de afrouxar suas metas fiscais para 2025 e 2026, não parece distante da realidade o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, quando diz que dois terços do aumento das taxas e da desvalorização do real podem decorrer de fatores externos.

Ao menos houve certo alento na semana passada, quando o presidente do Fed, Jerome Powell, reforçou que vê como improváveis elevações adicionais dos juros.

Ao contrário, a autoridade monetária americana crê que o mais provável é que a inflação volte a mostrar tendência de queda para 2% nos próximos meses, o que abriria espaço para alguma suavização no torniquete financeiro do dólar antes do fim de 2024.

A conclusão para o Brasil é que não pode haver acomodação nem leniência com as contas públicas. Justamente por reconhecer que o país sofre influências do ciclo financeiro global, é necessário agir com prudência na gestão doméstica para evitar que tais riscos possam prejudicar o desempenho da economia e do emprego —coisa que o governo não tem feito.

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