Em Uma Saída Honrosa, Vuillard reconta fiasco da França na Indochina

O Vietnã foi vencedor de duas guerras no século 20. Em 1975 derrotou os Estados Unidos e passou a representar uma mancha na história militar americana. Bem menos citada é a derrota da França em 1954.

A então colônia da Indochina desmoronou com Dien Bien Phu, um vale em que os franceses se entrincheiraram e foram triturados pelo cerco da guerrilha do Vietminh (que depois se chamaria Vietcong).

Esse primeiro episódio é narrado por Éric Vuillard em "Uma Saída Honrosa", o 11º livro publicado pelo escritor francês, que é aqui conhecido por ter ganho o prêmio Goncourt de 2017, com "A Ordem do Dia". É um lançamento da Manjuba, selo de não ficção da editora Mundaréu.

Uma nota publicada no fim do romance reflete o tamanho da tragédia que os vietnamitas viveram por sua independência. Franceses e americanos perderam nas duas guerras 400 mil militares, contando os vietnamitas que os auxiliavam. Do lado do Vietnã o número foi imensamente maior: 3,6 milhões. É o mesmo que franceses e alemães perderam juntos na carnificina da Primeira Guerra Mundial.

Os dois conflitos no mesmo país do Sudeste Asiático tiveram motivação diferente. A França julgava que a Indochina fazia parte de seu império colonial, mas os combatentes de Ho Chi Minh e do general Giap o aspiravam como Estado independente. Os EUA, por sua vez, enfrentaram um território dividido –o norte comunista com sede em Hanói, e o sul pró-ocidental com sede em Saigon– e tentaram inutilmente fazer com que o norte não engolisse o sul, e que, de preferência, ocorresse o oposto para justificar o freio à expansão de um regime pró-soviético durante a Guerra Fria.

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O livro de Vouillard não perde tempo com esse paralelo, mas fornece duas informações preciosas. A primeira é que o Pentágono custeava 40% da guerra colonial dos franceses (maneira de impedir a expansão comunista), e a segunda é que, sem acreditar que a França daria ao conflito um bom desfecho militar, o então secretário de Estado americano, John Foster Dulles, ofereceu aos franceses duas bombas atômicas. O autor não discorre sobre quanto o eventual uso desses artefatos teria mudado o perfil, nos anos 1950, das lutas anticoloniais.

Mas o anacronismo político e o besteirol militar foram essencialmente franceses. E desde o início da Indochina como colônia. O romance se atém, por exemplo, à visita em 1928 de inspetores do trabalho a plantações de látex, em que mão de obra semiescravizada perecia sob fome e prisão com tornozeleira metálica atada a uma corrente, ao lado da alta incidência de suicídios. A grande empresa de borracha e pneumáticos registrava, enquanto isso, ganhos indecentes na Bolsa de Paris. Mecanismo parecido orientava o Banco da Indochina, ao qual o Tesouro francês havia delegado o direito de emitir papel-moeda para o uso das colônias asiáticas.

A opressão econômica, política e social eram tão grandes que alguma coisa certamente sairia dos trilhos do domínio colonial. Foi o que aconteceu em 1950, com a batalha de Cao Bang, em que a guerrilha infligiu a primeira grande derrota ao Exército da metrópole. Assunto obviamente tratado, em Paris, pelos deputados da Assembleia Nacional.

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