Em meio a enchentes históricas, população do RS enfrenta medo de saques e violência

A preocupação com as chuvas históricas que causaram danos em 364 dos 497 municípios do Rio Grande do Sul faz com que muitas pessoas saiam de casa por segurança. Entretanto, relatos sobre saques e aumento de assaltos e outros crimes em áreas alagadas amedrontam a população já abalada com a tragédia.

Moradores da capital Porto Alegre afirmam que estabelecimentos comerciais da cidade como mercados, lojas e farmácias foram saqueados nos últimos dias.

A moradora do centro histórico Emely Jensen, que tem um apartamento em zona não alagada, conta que deixou o bairro após sofrer uma tentativa de assalto no domingo (5).

Ela diz que já pretendia sair do local por estar incomunicável, sem sinal de internet nem de telefonia, com dificuldade de conversar com a família, que enfrentou 1,9 metro de água em casa na cidade de São Sebastião do Caí.

"A cereja do bolo foi uma tentativa de assalto próximo à minha casa, o que nunca aconteceu comigo antes, nem mesmo à noite", diz. "Comecei a ficar com medo de ficar na região."

Segundo Emely, muitas pessoas estão desesperadas. "O cara que tentou assaltar a gente de moto estava muito nervoso, se vacilar ele nunca nem assaltou antes."

Ela diz não acreditar que seu apartamento possa ser invadido, mas tomou a decisão de deixar o local com a esposa em um momento de sensibilidade, somado a um incêndio que ocorreu naquela noite em sua rua.

"Muita coisa acontecendo, muita gritaria", diz. "Resolvemos sair de lá e assim que houver passagem segura vamos para São Sebastião do Caí dar apoio à nossa família." Na cidade há relatos de saques a farmácias inundadas, por exemplo.

Em contrapartida à sensação de medo, Emely conta que o bairro, próximo do ponto de resgate montado na orla do Guaíba, tem uma corrente solidária "incrível", com muita gente se voluntariando para ajudar ou oferecendo doações. "Há um desespero também para ajudar", observa.

Moradora da ilha da Pintada, no bairro Arquipélago, a região mais afetada de Porto Alegre, Paula Reis de Lima conta que muitas pessoas ficaram no local e resistem a sair por medo de saques.

"Meu pai não quis sair de casa na quinta-feira [2] quando dava tempo e ficou sob cuidados de parentes. Na madrugada de quinta para sexta tiveram que resgatá-lo e ele estava com água na cintura".

Segundo ela, quando chegou a um abrigo o pai já estava com hipotermia e hipoglicemia. "O maior medo do meu pai é que alguém entrasse na casa dele para roubar. E aí quase que ele perde a vida em função desse medo."

Paula diz que os ataques costumam ocorrer à noite. "Não ligam o motor, vão a remo, se arriscam inclusive, entram nas casas e fazem esses saques. Algumas pessoas colocam coisas no forro, no alçapão, e tem gente que se aproveita dessa situação."

Segundo ela, é comum relatos de moradores do bairro que já tiveram seus bens roubados e casas arrombadas por pessoas que vieram de outras regiões, especialmente nas enchentes que afetaram o lugar em setembro e novembro. Mas ela considera que o nível muito acima da média da cheia atual pode dificultar a ação dos criminosos.

MORTE EM ARROIO DO MEIO

Em Arroio do Meio, no vale do Taquari, um grupo de policiais de Passo Fundo chegou à cidade para prestar apoio às forças de segurança em uma onda de criminalidade em meio aos estragos causados pelas chuvas.

Na quinta-feira (2), um homem morreu após ser atingido por um espeto usado em churrasqueiras. Na sexta (3), uma pessoa foi baleada e encaminhada ao hospital em Lajeado. Ainda não há mais informações sobre as causas dos crimes, em apuração pela Polícia Civil.

De acordo com o prefeito Danilo Bruxel (PP), a administração municipal já avisou a Força Tática da Brigada Militar que está no município sobre as ocorrências. No sábado (4), um grupo de policiais de Passo Fundo, no norte do Rio Grande do Sul, chegou a Arroio do Meio para aumentar as operações de segurança.

A cidade ainda depende de caminhões-pipa para abastecimento, e muitos pontos da cidade ainda estão sem luz.

Todas as ligações de Arroio do Meio com Lajeado foram destruídas pela água. Além da ponte na RS-130, metade da histórica ponte de ferro também desabou.

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