O veto presidencial e a negação da memória

É evidente que o Estado democrático de Direito enfrenta instabilidades constantes. Passados 60 anos do golpe militar, continuamos a lidar com ameaças à liberdade e à justiça. Recentemente, decisões presidenciais buscam restringir o debate sobre esse período, mostrando a fragilidade das nossas conquistas democráticas.

Como arqueóloga responsável pela etapa de arqueologia forense em uma colaboração interinstitucional (Unifesp, Unicamp e UFMG) do projeto arqueológico no DOI-Codi, em São Paulo —como desdobramento do Grupo de Trabalho Doi-Codi-SP—, percebo que o veto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à criação de um memorial é um grande retrocesso.

Ao abafar a necessidade de justiça e negar o direito de reconhecimento, essa ação não apenas mina os princípios fundamentais dos direitos humanos, mas, sobretudo, desrespeita a essência da democracia.

Os horrores ocorridos no DOI-Codi durante a ditadura militar brasileira ressoam pela materialidade desse aparato da repressão. Nossos estudos arqueológicos revelam evidências dos abusos brutalmente cometidos e resgatam memórias de vítimas e suas famílias, oferecendo uma chance para tratar suas lembranças com dignidade. Contudo, a falta de um espaço dedicado à reflexão sobre o passado impede a cura de muitas famílias ainda marcadas pela ditadura.

Memoriais desempenham um papel crucial em nossa sociedade, pois não são apenas monumentos estáticos, mas espaços dinâmicos de educação, reflexão e cura. Eles nos obrigam a confrontar nosso passado, por mais doloroso que seja, promovendo uma conscientização mais profunda e evitando sua repetição no presente e no futuro.

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