Comunidade do Osho no RS criou rondas armadas e rotas de fuga na pandemia, dizem ex-membros

Em 2023, durante a pandemia da Covid-19, a comunidade Osho Rachana, na zona rural de Viamão, na Grande Porto Alegre (RS), resolveu fechar suas porteiras.

Antes, foram convocados os integrantes do grupo que vendiam agendas e organizavam sessões de meditação e práticas bioenergéticas em cidades como Rio de Janeiro, Belo Horizonte, São Paulo e Florianópolis. O perfil deles era parecido: jovens de classe média e média alta, quase todos brancos. Eles somaram 108 pessoas no sítio, durante o pico de ocupação do local.

Criada nos anos 1990 por discípulos de Osho (1931-1990), o controverso líder espiritual indiano apelidado de "guru do sexo", a Osho Rachana adotou o mesmo modelo das comunidades de seu mestre, com meditações ativas e premissas de amor livre, como mostrou a premiada série documental "Wild Wild Country".

Assim como na série, em que discípulos de meditação pegam em armas para proteger sua comunidade nos Estados Unidos, os ex-moradores da Osho Rachana que fizeram o isolamento coletivo relatam a instauração de um clima de insegurança e terror para além do vírus e contra o qual a comunidade era incitada a reagir e se armar para se proteger.

Eles contam que armas foram compradas e um grupo fez cursos de tiro. Implementou-se um toque de recolher e rondas noturnas armadas pelo sítio, onde rotas de fuga por terra e pela água, com treinamentos periódicos, foram desenhadas para o caso uma invasão pela vizinhança empobrecida.

"Foi designada uma equipe que selecionava notícias do dia e passava para o grupo, que tinha pouco acesso ao noticiário já que trabalhávamos o dia todo e dormíamos poucas horas por noite", conta Karina Coppetti, 35, que viveu na comunidade até meados de 2023.

Procurado, o líder e cofundador do centro de terapia Namastê e da comunidade da Osho Rachana, Prem Milan, 68, afirmou que foram compradas armas legais para proteção da comunidade, mas negou as demais acusações.

A Comuna é o ponto de chegada para jovens que começaram processos terapêuticos nos centros de terapia bioenergética e meditações ativas Namastê, em Porto Alegre ou na filial do Rio de Janeiro, e abraçaram um novo modo de vida e um novo nome, em sânscrito, como Osho fazia com seus discípulos.

Um grupo de 16 ex-moradores da comunidade, muitos com pelo menos cinco anos de vida no local, se reuniu agora para denunciar o que descreve como uma rotina de abuso psicológico, manipulação de conteúdo terapêutico e exploração financeira, além de episódios de agressão física.

Eles levaram o caso ao Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS), que informou, por meio de nota, que o "MPRS, no âmbito protetivo, já teve arquivado 'notícias de fato' em face da investigação ainda estar junto à Delegacia de Polícia da cidade de Viamão". Procurada, a Polícia Civil gaúcha informou que a 1ª delegacia de Viamão está investigando o caso.

Os denunciantes que se isolaram na comunidade afirmam terem sido obrigados a fazer terapia de ozônio retal uma vez por semana, mesmo sem eficácia comprovada contra o coronavírus, como forma de prevenção.

"As médicas da comunidade mantinham o registro de quem fazia, sob pena de constrangimento em reunião", conta a designer Carolina Land, 31, que viveu por sete anos na comunidade, sobre os encontros periódicos que reúnem todos os moradores e, segundo os denunciantes, eram usados para constranger publicamente quem desviava das condutas esperadas na comunidade.

Milan, nascido Adir Aliatti e batizado por carta remetida de Puna, na Índia, e assinada pelo próprio Osho, diz que a terapia de ozônio foi uma decisão coletiva da comunidade, e afirma não haver mais armas no local.

"Compramos na época por recomendação da polícia depois que ficamos reféns durante um assalto ao sítio. Fizemos curso de tiro porque não adianta ter arma sem saber usar", explica Milan. Ele afirma que as rondas noturnas armadas foram feitas para evitar que animais criados no local fossem roubados de noite.

No dia 8 de fevereiro de 2023, dois moradores da comunidade foram detidos por policiais militares de Viamão durante uma batida na rua do sítio. Eles ocupavam um dos 12 carros do tipo Monza que pertenciam à Osho Rachana, onde os PMs encontraram uma espingarda, duas pistolas e munição de revólveres calibre 38.

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