Mortes: Encontrou na militância política a força para enfrentar a distrofia muscular

Enio Barroso Filho saiu da faculdade de engenharia química sem o diploma, mas com uma militância política que o acompanhou por toda a vida. Nascido em São Paulo, estudava na Faculdade Oswaldo Cruz quando aceitou um emprego no Polo Petroquímico de Porto Alegre (RS), onde morou em meados da década de 1980.

Um jogo de futebol marcou sua vida e a volta para a capital paulista. Quando foi chutar uma bola, a perna não subiu. O caso pareceu engraçado para os amigos que jogavam com ele, mas foi a primeira manifestação de uma doença hereditária que lhe reduziria gradativamente os movimentos a partir daí: a distrofia muscular.

Aposentado, Enio voltou com um prognóstico que lhe dava mais cinco anos de vida. Uma visita da então deputada estadual Luiza Erundina (na época no PT, hoje no PSOL) a sua casa, na Vila Santa Terezinha, zona norte da cidade, o convenceu a retomar a paixão pela política. Ela foi anunciar que seria candidata a prefeita naquele ano, 1988, e contava com a atuação dele na região de Santana.

O sim de Enio surpreendeu menos do que o desempenho de Erundina naquela eleição. Vitoriosa, ela se tornou a primeira mulher a ser eleita prefeita da capital paulista. Foi também a primeira vez que o PT comandou a maior cidade do país.

Com o apoio de uma bengala, Enio deixou a aposentadoria e foi trabalhar como assessor na administração regional de Santana. Era a continuação de uma atuação que havia começado na formação do PT, na virada daquela década, quando trabalhava no Polo Petroquímico Capuava, em Santo André.

Depois de duas derrotas eleitorais e do agravamento de seu estado de saúde, ele voltou, já em uma cadeira de rodas, a trabalhar na administração regional, mudada para subprefeitura, com outra prefeita petista, Marta Suplicy.

Da gestão municipal, Enio abraçou a atuação como blogueiro no primeiro mandato do presidente Lula (PT).

Ele e outras pessoas que faziam a função ficaram conhecidos como "blogueiros sujos", apelido inicialmente pejorativo dado por José Serra (PSDB), mas que acabou sendo adotado pelo grupo.

Participou de diversos atos ao lado de líderes do partido como Lula e sua sucessora, Dilma Rousseff (PT), e publicou seus textos. Os colegas, num gesto de carinho, criaram, em meados da década passada, a campanha "Vá para Cuba, companheiro", que o levou para o país caribenho em busca de um tratamento para a distrofia.

A viagem não serviu para uma cura, mas garantiu uma sobrevida de quase uma década, apesar do agravamento da doença nos últimos anos. No último dia 7, morreu em decorrência de uma infecção pulmonar. Deixa a mulher, Sonia Maria Manso, as filhas Maria Júlia Barroso e Juliana Cristina Sampaio Barroso (do primeiro casamento), os enteados Fernanda Manso Navarro e Diogo Manso Navarro e os netos Noah e Lian, filhos de Diogo.

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