O Estrangeiro Reloaded faz muito pouco para atualizar o original

O monólogo combina com Meursault, protagonista da obra-prima de Albert Camus, mas a austeridade ambiente não rima com a riqueza sensorial do anti-herói de "O Estrangeiro Reloaded". Em certo sentido, o estrangeiro de Camus está alheio à vida. É possível dizer, porém, que ele está mais próximo dela do que qualquer um, com sua honestidade brutal.

No romance que inspira a adaptação, dirigida por Vera Holtz em cartaz no Teatro Vivo, a distância que separa Meursault dos demais é compensada pela proximidade com a natureza, com o Sol —a areia, o mar e os corpos em harmonia.

A peça parece alheia a tudo isso. Quando o ator Guilherme Leme diz, em cena, que as sensações físicas se sobrepõem aos sentimentos, temos que acreditar em sua palavra, sem entender muito bem o porquê. A encenação não colabora com a literatura, e a velocidade do teatro dificulta a reflexão. Quase não há sensorialidade.

O espectador precisaria ir ao original para compreender que Meursault, preso em um eterno presente, sem passado nem futuro, está alheio ao que denominamos sentimento, essa unidade abstrata que une impressões descontínuas no tempo. Um privilégio da leitura.

O cenário e o figurino, que compõem o ambiente, são escuros demais para uma tragédia solar. As contradições do Sol não aparecem, apenas o incômodo; o prazer deixado de lado, à mera narração. Por isso, não sentimos o peso do aprisionamento, depois do assassinato; o ambiente não muda, como se não tivesse havido privação.

O que você está lendo é [O Estrangeiro Reloaded faz muito pouco para atualizar o original].Se você quiser saber mais detalhes, leia outros artigos deste site.

Wonderful comments

    Login You can publish only after logging in...