Empresário nega existência de trabalho escravo no Sul e gera mal-estar em evento com Marinho; ouça

O empresário Gedeão Silveira Pereira, segundo vice-presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), fez um pronunciamento nesta segunda-feira (10), durante a Conferência Internacional do Trabalho, em Genebra, na Suíça, em que negou a existência de trabalho escravo no Rio Grande do Sul e criticou o programa Bolsa Família por, segundo ele, reduzir a oferta de mão de obra.

A manifestação revoltou representantes dos trabalhadores que estavam presentes e foi rebatida pelo ministro do Trabalho, Luiz Marinho.

Pereira foi enviado ao evento como representante da bancada dos empresários, que oferecerá um jantar para esta terça-feira (11). Parte dos representantes da bancada dos trabalhadores, composta por líderes sindicais, defende não comparecer ao encontro se não houver retratação de Pereira.

Em sua fala, ele lembrou dos casos de trabalhadores de colheita de uva resgatados em regime análogo à escravidão no Rio Grande do Sul em fevereiro do ano passado e perguntou se o ocorrido não teria sido "uma distorção das aplicações da legislação trabalhista".

Ele afirmou que é possível admitir que exista trabalho escravo na mineração da Amazônia, "que não tem comunicação, não tem Starlink [braço de satélites da SpaceX, de Elon Musk]", mas não em uma "das regiões mais ricas do Brasil, contra as nossas vinícolas Salton, Garibaldi e Aurora".

"Imaginem os senhores cumprir uma burocracia intensa para alguém que tem que colher uva em três dias, dois dias ou quatro dias. Se ele vai assinar a carteira de trabalho, se ele vai fazer toda a... Ele não consegue colher a uva, e quem é que perde? Vai perder o Brasil. E é trabalho escravo isso? Não, não é. Tanto é que eles recebem um salário até superior a qualquer salário mínimo vigente no país", disse Pereira, que também é presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul).

"O Brasil é uma potência agrícola. Não só agrícola, [mas também] ambiental e de energias limpas, reconhecidas hoje pelo mundo. Esse é o país que nós somos. E nós não chegamos aqui com absoluta certeza se nós tivéssemos trabalho escravo, se nós tivéssemos trabalho infantil", afirmou.

Sobre o Bolsa Família, ele disse que parece que neste momento "atrapalha a nossa relação [entre empregadores empregados], porque nos falta já mão de obra no Brasil".

Na sequência, Marinho rebateu a manifestação de Pereira contando caso que ocorreu em 2006, quando apresentou imagens de trabalho escravo no Mato Grosso para o então governador Blairo Maggi, que então teria lhe pedido desculpas por ter negado que essa forma de exploração existisse em seu estado.

Marinho então destacou que dialogou com as empresas envolvidas nos casos do Rio Grande do Sul, que assinaram um Termo de Ajustamento de Conduta.

"A fala foi muito infeliz. O Brasil virou a página do negacionismo na ciência, mas no mundo do trabalho infelizmente os negacionistas insistem em negar a realidade. O trabalho escravo, o trabalho infantil, a precarização estão aí e tem a digital de quem apoiou a reforma trabalhista", afirma Antonio Neto, presidente da Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB) e um dos participantes do evento.

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