Avanço da ultradireita traz riscos para a UE
A eleição para o Parlamento Europeu é evento marcado pela natureza burocrática da instituição, uma das três que compõem o arcabouço da governança do bloco de 27 nações. Apenas metade do eleitorado potencial foi às urnas no processo encerrado no domingo (9).
Os debates do órgão centrado em Estrasburgo (França) costumam ser vistos como alheios às realidades locais, e os 720 deputados não têm palavra decisiva sobre temas como defesa, hoje vital em meio à Guerra da Ucrânia.
Isso dito, o pleito serve como um barômetro político, e o que foi aferido neste fim de semana sugere uma renovação da onda conservadora dos anos 2010, cujos efeitos deletérios se fazem presentes até hoje, como o brexit.
O golpe foi sentido com mais força na França, onde o presidente Emmanuel Macron reagiu à derrota fragorosa para o partido da ultradireitista Marine Le Pen dissolvendo o Parlamento e convocando eleições antecipadas.
É uma tentativa algo afoita de galvanizar o eleitorado para o que ele percebe como um risco existencial para a democracia francesa. Se fracassar, poderá ter de conviver no restante de seu derradeiro mandato até 2027 com uma Assembleia Nacional fragmentária ou dominada por radicais.
Mas Le Pen, filha de um ícone da ultradireita no pós-guerra, já não se vende como tão radical. Ela é a face mais visível do retrofit promovido pelo movimento na Europa, buscando tornar-se palatável para as franjas mais centristas.
É também o caminho da maior vencedora do domingo, a premiê italiana, Giorgia Meloni. De herdeira presumida do fascismo, ela firmou-se como uma rara ilha de estabilidade no seu país e abraçou a pauta pan-europeia, isolando extremistas de sua aliança.
Meloni agora será decisiva para a permanência ou não da centro-direitista Ursula von der Leyden como presidente da Comissão Europeia, o Executivo do bloco.
Críticos apontam o caráter cosmético e o oportunismo de tais mudanças. Le Pen, por exemplo, só afastou-se da Rússia após o início da guerra, em 2022.
É salutar, de todo modo, o predomínio de agremiações tradicionais, sejam no dominante bloco de centro-direita do Partido do Povo Europeu, seja na enfraquecida centro-esquerda que o segue.
O cenário fica mais incerto —e sombrio— quando se observa a ascensão da ultradireita menos contida, a começar pela AfD (Alternativa para a Alemanha). O partido de notória associação com o neonazismo ficou em segundo lugar, além de vencer eleições estaduais.
É um voto antissistema e antiglobalização, com tons xenofóbicos, que ajudou a desidratar o Partido Verde ao associá-lo à perda de empregos, ameaçando metas de descarbonização. Indica, como comprova a posição firme de radicais na Hungria, na Áustria e na Espanha, que há espaço para a ressonância desses discursos em meio à temperança sancionada pela maioria.
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