Insegurança alimentar na infância afeta desenvolvimento socioeconômico do país

Com os R$ 150 que sobram após pagar as contas, Brenda Ketlin, 24, consegue comprar pão, arroz e feijão. Essa se tornou a base da alimentação dela e de seu filho, Taylon Luca Gonçalves, 4, que moram em um barraco de madeira na favela Morumbizinho I, na zona leste de São Paulo.

A jovem nunca teve um emprego formal, e, depois do nascimento do filho, ficou ainda mais difícil encontrar trabalho.

A avó do menino, Júnia Lúcia Gonçalves Pereira, 53, cuida de Taylon e outros cinco netos, todos na primeira infância, com idades entre 0 e 6 anos. A matriarca da família teve nove filhos, dos quais quatro são mães que também estão desempregadas. Assim como Júnia, elas dependem do valor pago pelo Bolsa Família, de R$ 650, além de eventuais bicos.

"Arroz e feijão é o que meus netinhos mais comem, eu acho um absurdo, tinha que ter um legume, uma fruta. É muito difícil ver isso, não gosto nem de falar isso, meu coração fica muito triste", diz a avó. "A gente faz o possível para comer todo dia, mas acontece de ficar um dia ou outro sem nada. Só Deus sabe como é."

A realidade da família de Júnia é a mesma de muitos outros brasileiros. Segundo estudo do NCPI (Núcleo Ciência Pela Infância), até 2023, a comida faltava em 1 de cada 3 lares brasileiros, totalizando 2,3 milhões de crianças de 0 a 6 anos em domicílios sem renda suficiente para suprir necessidades básicas de alimentos.

O número corresponde a 11% da população da faixa etária, percentual parecido com o de duas décadas atrás. Em 2001, eram 13,5% os que passavam necessidades.

Ciência, hábitos e prevenção numa newsletter para a sua saúde e bem-estar

O estudo aponta que a falta de alimentos em quantidade e qualidade adequada durante a primeira infância tem consequências para a vida, como deficiências no desenvolvimento emocional, cognitivo e de linguagem. Tais consequências afetam o desenvolvimento socioeconômico do país, segundo especialistas.

Uma revisão de estudos feita por pesquisadores americanos para o relatório "Food Insecurity in Early Childhood" (Insegurança alimentar na primeira infância, em português), desenvolvido pelo Center for Study of Social Policy, mostra que a insegurança alimentar tem impacto na performance escolar da criança e cria dificuldade de foco e aprendizagem, o que prejudica o desenvolvimento acadêmico.

Para Naercio Menezes Filho, professor titular de economia do Insper e membro do NCPI, a falta do pleno desenvolvimento das capacidades na infância causa perda de, em média, 20% da renda individual na fase adulta.

O que você está lendo é [Insegurança alimentar na infância afeta desenvolvimento socioeconômico do país].Se você quiser saber mais detalhes, leia outros artigos deste site.

Wonderful comments

    Login You can publish only after logging in...