Vestido azul mudou minha vida e me fez repensar relação com corpo

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Cristiane Guterres

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No geral, sempre tenho outra, pois pode acontecer de tudo no dia do evento: não servir, sujar, descosturar. Mas minha segurança com relação à roupa era tamanha que levei só essa opção. Vestido na mala, aeroporto, avião. Blumenau, cheguei!

No dia do evento vesti um destes bodys que colocam quase tudo no lugar, comprimem a barriga, nossa respiração e nossa paz. Ficaria mais de nove horas com essa compressão no corpo. No fim do evento, sobraria de mim só ilusão. Coloquei o vestido deslumbrante. Um azul bem vivo, um decote na medida e todo o meu corpo parecia estar desenhado debaixo daquele tecido, inclusive minha barriga saliente que não foi totalmente comprimida pelo body. Todos, sem exceção, veriam minha barriga, inclusive a pessoa mais perigosa naquele ambiente: eu mesma.

Foi me olhar no espelho e começou a me dar calafrios. Minha vontade era de tirar a roupa e vestir qualquer coisa que não me deixasse tão exposta. Será que pensariam que estou grávida? Vão ficar pensando como posso ter coragem de usar um vestido desses com esse corpo. Se eu entrasse no transporte público com esse vestido alguém me daria o lugar? Esses eram os questionamentos na minha cabeça.

Por alguns longos minutos fiquei de frente ao espelho tentando esconder a barriga, descobrindo poses. A cada momento de frente ao meu reflexo, me sentia mais insegura. O brilho da apresentadora que subiria ao palco nos próximos instantes foi se apagando. Me reduzi a uma mulher com um vestido que evidenciava a barriga e nada mais.


Naquele momento, esqueci de toda a minha genialidade no palco, me esqueci do meu imenso carisma, da qualidade do meu trabalho e de todas as habilidades que me trouxeram o convite para ser a comandante de uma festa tão especial que é um Tedx. O semblante no meu rosto mudou, o medo e a sensação de insuficiência passaram a preencher a sala onde eu me trocava.

É chocante como a busca pelo corpo perfeito pode desabar a autoestima de uma pessoa. De repente eu, que estava tão segura de mim, me sentia feia e limitada diante daquele espelho.

Trocar de roupa não era uma opção, eu não havia levado outra. Não subir no palco também não era, eu havia me comprometido a entregar o melhor de mim naquele trabalho. Mas eu precisava me encontrar dentro daquela roupa e me sentir menos exposta.

Corri pro Instagram e fui olhar o conteúdo de algumas mulheres fabulosas e não magras que sigo: Alexandra Gurgel, Amanda Souza, Nahuane Drummond, Precious Lee. Vi todas elas cientes de que são lindas dos pés à cabeça, em cada curva, em cada celulite, em cada detalhe de seus corpos.

Me lembrei de tudo o que estudei para chegar onde cheguei. Lembrei de todas as mulheres que se sentem representadas quando ligam a TV e me vêem negra, gorda e com meus fartos cabelos crespos na tela. Recuperei em minha mente cada mensagem que elas me mandam diariamente e me vesti de coragem sobre o meu vestido azul. Subi no palco ainda com medo, mas já sem vergonha de ser quem sou.

Se alguém me achou inadequada naquela roupa, não me contou. Recebi inúmeros elogios, todos dizendo que eu estava linda. Só fui me lembrar novamente da barriga quando senti fome e me vi diante do dilema de comer ou não um carboidrato. Comi, devorei o medo e me joguei na festa de comemoração, como se não houvesse amanhã.

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