Assédio sexual: homens estão com medo de serem acusados?

só para assinantes

Cristina Fibe

Nenhuma delas reconheceu a má conduta de seu presidente. Ao contrário, tomaram essa difícil decisão de afastá-lo apenas porque o jornal "The Guardian" publicou, há pouco mais de um mês, acusações de quatro mulheres. Duas delas disseram ter sido tocadas pelo chefe, e outras duas apontaram comentários inapropriados sobre suas aparências.

O executivo não gostou da decisão, resultado de "denúncias infundadas e anônimas", e se queixou de ter sido "atirado para baixo do ônibus", porque as empresas "precisavam ser vistas fazendo algo".

Conversei com a publicitária Nana Lima, cofundadora da consultoria Think Eva, de igualdade de gênero no mundo corporativo, sobre essa reação do agora ex-presidente da Tesco. Ela comentou que "o privilégio masculino é tão presente que o próprio agressor se sente a vítima quando as denúncias de assédio vêm a público".

John Murray Allen, executivo afastado após denúncias de assédio: homens estão nervosos - Getty Images - Getty Images

"Se essa constatação é verdadeira e os homens estão realmente preocupados em trabalhar, conviver, mentorar mulheres por possíveis denúncias de assédio, isso só reforça a necessidade de as empresas capacitarem todos os funcionários sobre o que é assédio e o que é consentimento", explica.

Com o aumento de denúncias que temos acompanhado, diz Nana, os prejuízos passarão a ir além do impacto sobre os envolvidos: "Estamos falando de prejuízo institucional, social e reputacional, de crise de imagem."

O caso britânico mostra que Nana tem razão: as empresas agem quando percebem o prejuízo para a marca. Quando o assédio ameaça os lucros, a violência de gênero deixa de ser tolerada.

Os homens estão nervosos, sim, mas só por se verem diante da necessidade de compartilhar funções, salários e, quem sabe, privilégios com mulheres que não aceitam mais ficar no lugar que eles acham que merecemos.

Fazer comentários sobre a aparência de uma funcionária é lembrá-la que, antes de ser avaliada pelo seu trabalho, ela será analisada por seu corpo e pelo modo como se veste.

Quando um homem tenta tocar numa subordinada, ele faz com que ela fique acuada, sem reação, intimidada e com medo. Se ela disser "sim" a uma interação sexual, esse consentimento não é dado de forma livre. E, portanto, não é válido. O homem que comete assédio sexual em uma empresa sabe disso. Só finge que não.

O que você está lendo é [Assédio sexual: homens estão com medo de serem acusados?].Se você quiser saber mais detalhes, leia outros artigos deste site.

Wonderful comments

    Login You can publish only after logging in...