Mineiros colhem flores que 'vivem para sempre'

Em Minas Gerais, na região da Serra do Espinhaço, um povo resiste há mais de um século. São os apanhadores de flores sempre-vivas. O termo tem a ver com a característica das flores do Cerrado: mesmo fora da terra, as plantas são desidratadas e preservam a cor e o formato. Ficam, assim, sempre vivas.

A resistência também é uma característica dos próprios apanhadores. Unidos, sobreviveram às adversidades, que poderiam extingui-los. A apanhadora Maria de Fátima Alves, a Tatinha, sabe bem.

Relacionadas

Os apanhadores vivem uma vida comunitária. Há áreas comunitárias para gado e plantio de comida. As flores são as principais fontes de renda e toneladas são vendidas para Minas, Brasil e exterior. A região, porém, virou alvo do interesse econômico de poderosos. "Há mais de 30 anos, as cercas chegaram", relembra Tatinha.

Aos poucos, grileiros fincaram cercas e venderam terras. A monocultura também foi instalada em fazendas e as conhecidas mineradoras mineiras se instalaram ali. O alerta foi aceso.

Uma interferência ambiental nestas proporções pode impactar drasticamente a dinâmica dos apanhadores. Todos os anos, cerca de 350 espécies endêmicas do Cerrado são colhidas. Entre elas, há 90 espécies de flores e botões, usados em artesanatos, buquês e lembrancinhas.

Os apanhadores se dividem entre o trabalho a 1400 metros de altitude, onde criam gado, e os "pé-da-serra", onde praticam agricultura e criam animais de pequeno porte nas regiões com menores altitudes.

Apanhadora de flores sempre-vivas na Serra do Espinhaço, em Minas Gerais - Arlis Alves/Divulgações - Arlis Alves/Divulgações Populações Tradicionais de apanhadores de flores Sempre Vivas situadas entre a Serra do Espinhaço e a Serra do Cipó, em Presidente Kubitschek, Minas Gerais - Valda Nogueira/Imagens Humanas/Divulgação - Valda Nogueira/Imagens Humanas/Divulgação Populações Tradicionais de apanhadores de flores Sempre Vivas situadas entre a Serra do Espinhaço e a Serra do Cipó, em Presidente Kubitschek, Minas Gerais

Com mais de oito anos de associação, eis uma boa notícia. Em 2018, a Organização das Nações Unidas (ONU) reconheceu os apanhadores de flores sempre-vivas da Serra do Espinhaço como Patrimônio Agrícola Mundial Brasileira. Após o reconhecimento, criaram um protocolo para definir como deverão ser consultadas para dar autorização para a entrada em suas terras.

Desde 2023, os apanhadores promovem um festival próprio. Neste ano, uma sessão de cinema em Diamantina exibiu um documentário que narra a trajetória do grupo ao longo das décadas. Jovita Correia, apanhadora da comunidade quilombola Mata dos Crioulos, se emocionou. "Eu lembrei de toda a nossa história de força e luta para garantir nossos direitos", diz. "Foi um trabalho emocionante.

O que você está lendo é [Mineiros colhem flores que 'vivem para sempre'].Se você quiser saber mais detalhes, leia outros artigos deste site.

Wonderful comments

    Login You can publish only after logging in...