Como a energia solar está transformando comunidades isoladas da Amazônia

Enquanto crescia, Maria de Fátima Batista costumava estudar no escuro, usando uma vela ou lanterna para iluminar. Não havia eletricidade na comunidade ribeirinha onde ela mora, em Rondônia.

Hoje, aos 58 anos, Maria de Fátima, sua família e o restante da comunidade Terra Firme, que fica às margens do Rio Madeira, contam com energia elétrica 24 horas por dia por meio de painéis solares e baterias instaladas no ano passado pela empresa local (re)energisa, braço de energia renovável do Grupo Energisa do Brasil.

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Luz para todos

Diferentes administrações federais no Brasil tentaram resolver o problema de acesso à eletricidade na Amazônia. Em 2000, o presidente Fernando Henrique Cardoso criou um programa chamado Luz no Campo para eletrificar áreas rurais no Brasil. O programa foi atualizado e ampliado em 2003, no primeiro mandato de Lula, quando passou a se chamar Luz para Todos.

Segundo dados oficiais, mais de 16 milhões de pessoas foram beneficiadas pelo programa de Lula, que já foi prorrogado várias vezes. Mais recentemente, em 2023, o governo Bolsonaro lançou o Mais Luz para a Amazônia, um programa complementar criado especificamente para fornecer energia solar a famílias que vivem na região amazônica.

Foi através deste último programa que chegaram os painéis solares para Maria de Fátima e outros em Terra Firme. De acordo com o Ministério de Minas e Energia, até o momento, 8.828 unidades foram instaladas, beneficiando cerca de 35 mil pessoas, ao custo de 508 milhões de reais. Até 2030, o projeto espera atingir mais de 850 mil pessoas.

Em Rondônia, o grupo Energisa é responsável pela entrega dos kits solares do programa e por sua manutenção. O sistema permite o armazenamento de energia por meio de baterias carregadas durante o dia para uso noturno. As famílias agora pagam uma conta mensal de luz por meio de um aplicativo fornecido pela empresa Voltz, que também atua como um banco digital, oferecendo crédito e outros serviços financeiros de bancos tradicionais.

"A partir do momento em que você traz eletricidade, outras coisas vêm junto", diz Gustavo Buiatti, diretor de desenvolvimento, negócios e tecnologia da (re)energisa. "Hoje, os moradores pagam a energia, que é mais barata e limpa, por meio de um aplicativo no celular."

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ONGs ajudam a preencher a lacuna

A energia solar recentemente ultrapassou a energia eólica, tornando-se a segunda fonte de energia mais importante no Brasil depois das usinas hidrelétricas. No início deste mês, Manaus inaugurou a maior usina de energia solar da região Norte. Nos últimos anos, as instalações de painéis solares se expandiram em comunidades em toda a Amazônia por meio de iniciativas públicas, privadas e lideradas pelo terceiro setor.

Em parceria com a empresa de baterias de lítio Unicoba, a ONG Foundation for Amazon Sustainability (Fundação para a Sustentabilidade da Amazônia, em uma tradução livre) instalou recentemente painéis solares na vila de Santa Helena do Inglês, no Rio Negro, a cerca de 60 quilômetros de Manaus, retratada em reportagem da Mongabay no ano passado.

A WWF Brasil montou um projeto de painel solar na região da Vila Limeira, em Lábrea, no sul do Amazonas, região que apresenta altos níveis de desmatamento.

Paulo Junqueira, coordenador do Instituto Socioambiental (ISA), vem trabalhando com as comunidades indígenas do Xingu em um projeto de energia solar que começou em 2018. Ele diz que as comunidades estão experimentando muitos benefícios com a energia solar, como trabalhar na apicultura à noite, quando é mais fácil trabalhar com as abelhas. A energia solar também eliminou o ruído constante dos geradores a diesel. Ele observa, ainda, que o acesso à eletricidade teve um impacto profundo nas práticas culturais.

"Antigamente, quando o pessoal caçava, tinha uma distribuição. Quem caçou escolhia o pedaço, e o resto era distribuído", conta ele. "Agora, em vez de fazer a distribuição, que era uma questão de generosidade e troca, a carne vai para o freezer."

terra firme - Avener Prado/Mongabay - Avener Prado/Mongabay programa federal - Avener Prado/Mongabay - Avener Prado/Mongabay Segundo dados oficiais, foram instalados 8.828 kits solares, como na casa de Maria de Fátima, beneficiando cerca de 35 mil pessoas. Até 2030, o programa federal pretende atingir mais de 850 mil pessoas

(Por Ignacio Amigo, Sam Cowie e Avener Prado)

Notícias da Floresta é uma coluna que traz reportagens sobre sustentabilidade e meio ambiente produzidas pela agência de notícias Mongabay, publicadas semanalmente em 💥️Ecoa. Esta reportagem foi originalmente publicada no site da Mongabay Brasil.

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