Um mês após tragédia, projeto prevê restauração ambiental em São Sebastião

Há cerca de um mês, fortes chuvas e deslizamentos de terra deixaram 64 mortos e vários desabrigados em São Sebastião, no litoral norte de São Paulo. A situação, no entanto, já era prevista pelo ICC, o Instituto Conservação Costeira.

Desde 2016, o ICC realiza estudos com a finalidade de alimentar o poder público com informações relevantes em relação aos riscos geológicos que o município de São Sebastião está exposto.

Uma das fundadoras, a advogada Fernanda Carbonelli, explica que mais mortes foram evitadas graças ao trabalho feito pela organização na região. "Conseguimos evitar com a manutenção da APA Baleia Sahy, que conta com mais de 4 milhões de metros quadrados de Mata Atlântica que seriam ocupados irregularmente", conta.

Localizada entre as praias da Baleia e Barra do Sahy, na costa sul de São Sebastião, a APA Baleia/Sahy é uma Unidade de Conservação (UC) municipal idealizada pela sociedade civil para proteger a Mata Atlântica, englobando 5 importantes ecossistemas.

A APA foi um marco importante para a preservação da biodiversidade local, garantindo proteção para mais de 87 espécies de fauna com algum grau de extinção. O local integra o meio ambiente, cultura caiçara, educação ambiental, conscientização comunitária, fiscalização e apoio jurídico para comunidades do entorno.

Em reunião com o Conselho Estadual do Meio Ambiente (CONSEMA) na última quarta-feira (29), a organização apresentou todos os estudos feitos nos últimos dez anos, que alertavam sobre a possibilidade de uma tragédia acontecer.

Casa interditada em São Sebastião (SP) - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal Casa interditada em São Sebastião (SP)

Restauração socioambiental em áreas atingidas

Além disso, o ICC tem objetivo de fazer uma restauração socioambiental nas áreas antigas em São Sebastião, e para isso solicitou o apoio do poder público, moradores da região e outras ONGs que atuam no local.

"É um projeto que terá participação ativa da comunidade da Vila Sahy, associações de bairros e moradores, o poder público estadual e municipal, além de outras ONGs. Vamos trabalhar para que urbanistas sociais sejam contratados para desenvolver esse projeto, com oficinas participativas, ouvindo a comunidade", explica Fernanda.

Segundo a ambientalista, mais de 200 hectares de terra foram degradados na tragédia, que modificaram o cenário da região. Agora, o ICC pretende investir esforços na restauração dessas áreas.

A ideia é fazer parecido com o que já foi feito em Cubatão em 1987. Na época, helicópteros sobrevoaram as áreas devastadas espalhando sementes para reflorestar o espaço, o que teve um alto custo. Agora em São Sebastião serão usados drones, o que promete ser mais eficaz e barato.

"Na década de 80 fizeram um reflorestamento das áreas degradadas utilizando helicóptero e sementes peletizadas, as chamadas 'chuvas de sementes'. Nosso projeto vai seguir os mesmos princípios", explica André Motta, engenheiro agrônomo e técnico do ICC.

"É uma tecnologia inovadora, mas que a gente acredita que será extremamente eficaz. Essa restauração ambiental também ajuda na questão geológica, permitindo com que o solo fique menos exposto", completa o engenheiro.

O que falta para o projeto acontecer?

Segundo André Mota, ainda falta definir como será concedida a autorização para a aprovação do projeto, principalmente em trechos fora de Unidades de Conservação, "onde atualmente se faz necessário individualizar cada propriedade, o que não seria viável nesse caso".

"Para resolver essa questão estaremos alinhados com a gerência da Secretaria do Meio Ambiente do estado", explica o engenheiro.

Educando em escolas sobre os riscos

O ICC também atuará na parte educacional, desenvolvendo junto a Defesa Civil Municipal e ao CEMADEN (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais) um projeto voltado às 3 instituições de ensino que estão nas áreas atingidas pelo temporal.

Intitulado de "Escolas Seguras; Educando para o Risco", a ação tem como objetivo avaliar o envolvimento e a participação de crianças e jovens na Gestão de Redução de Riscos e Desastres. Além disso, será feito um estudo mais aprofundado sobre as áreas afetadas fora da Unidade de Conservação.

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