8º homem mais rico do país virou defensor da natureza após Bolsonaro

"Acho que sou efeito do Bolsonaro", diz. "Aconteceu logo no primeiro ano do seu governo, cujo projeto era evidentemente o da devastação da Amazônia. Percebi que boa parte das pessoas estava completamente alheia a esse problema - e que eu me incluía nessa lista."

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O documentarista, que até então não conhecia a Amazônia, resolveu então passar um tempo no Pará, onde se encontrou com indígenas, ambientalistas, colonos, cientistas e donos de pastagens para coletar as histórias da maior floresta tropical do mundo. A junção desses relatos, publicados originalmente na revista Piauí, saiu no fim de 2022 em forma de livro: "Arrabalde: Em Busca da Amazônia". Agora ele tem uma empresa de reflorestamento e defende que, para preservar a maior floresta tropical do mundo, ela precisa se tornar patrimônio cultural nacional.

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E a coisa só vai se resolver quando eles ocuparem os espaços de poder. Estou fazendo um documentário com a Txai Suruí [líder e ativista indígena do povo Suruí]. Nele, eu conto a história de como ela se deu conta de que precisava disputar as tais "narrativas".

Com 16, 17 anos, ela pediu para ser mandada para o exterior para aprender inglês. Assim, foi parar na Irlanda, onde morou durante um ano. Diz ela que chorava de saudade todos os dias, mas que aprendeu a língua. E em 2023, na COP de Glasgow, quando decidiram que uma representante dos povos originários da Amazônia iria abrir a conferência, ela estava pronta para discursar. Ela recebeu o convite três dias antes da COP, escreveu o discurso, subiu naquele palco e o resto a gente já sabe.

Esse movimento é uma das poucas boas notícias dos últimos quatro anos. Porque também é um paradoxo, né? Quando o Estado se torna extraordinariamente violento, você cria uma reação enfática a esse Estado, com lideranças organizadas. 💥De certa maneira, o Bolsonaro fertilizou a sociedade civil organizada. Muita gente se sentiu impelida a de fato ir para a trincheira.

💥️Além de escrever sobre a Amazônia, você também é cofundador e conselheiro de uma empresa de restauração florestal, a re.green. Você poderia contar um pouco sobre essa iniciativa?

A re.green nasceu do trabalho de um pesquisador chamado Bernardo Strassburg, que publicou dois artigos na revista Nature identificando quais seriam as áreas ambientais prioritárias a serem restauradas no mundo. Ele definiu essas áreas a partir de uma série de critérios, como biodiversidade, potencial de captura de carbono, criação de renda e emprego etc. Independente de qual critério você escolher, 💥️o Brasil é o grande hotspot de restauração, junto com um pedaço da África atlântica. Se você quer restaurar uma floresta para capturar carbono e promover a biodiversidade, você não vai fazer isso na tundra siberiana porque lá as árvores demoram 100 anos pra crescer - você faz isso no Brasil, porque aqui elas crescem em 10, 15 anos. Por enquanto, não existe tecnologia melhor para captura de carbono do que uma árvore que cresce.

💥️Em 2014, os tribunais argentinos deram a uma orangotanga do zoológico de Buenos Aires o "direito de sujeito não humano", para que ela pudesse ser libertada por meio de habeas corpus. Em 2017, foi a vez de um rio na Nova Zelândia, o Whanganui, ter seus direitos equiparados aos de um ser humano, para ser preservado. Você acha que esse caminho legal, que estende alguns tipos de "direitos humanos" a animais ou ecossistemas, pode ser uma estratégia também para a proteção da Amazônia?

Eu não sou um especialista em Amazônia, e certamente não sou um especialista em filosofia moral, mas eu preciso dizer que o argumento me é muito simpático. Eu acho que a questão moral fundamental se resume a uma só pergunta, que foi formulada por um filósofo inglês, chamado Jeremy Bentham. Se animais têm a capacidade de sofrer, que direito você tem de fazer com que criaturas sencientes sintam essa dor em teu próprio benefício? Acho que precisamos enfrentar essa questão e dar uma resposta para ela.💥

💥️[Dois dias depois da entrevista, João pede para completar a resposta, por e-mail.]

Fiquei pensando na pergunta que você me fez. Me parece legítimo que aqueles que sofrem possam ser protegidos daqueles que os fazem sofrer. Mas o que dizer da destruição de rios, da poluição dos céus, do abate de árvores que, até onde sabemos, não têm capacidade para sofrer? Minha impressão é de que também aqui existe um argumento sólido em defesa da legitimidade processual. Quem destrói uma ponte, um gasoduto ou uma torre de energia responde judicialmente por seus atos. São crimes contra a infraestrutura básica de uma sociedade. Pois bem, a natureza também deve ser considerada como infraestrutura, entendida aqui como o pilar sobre o qual todo o resto se assenta. E o resto, aqui, é a própria vida. Logo, destruir a Amazônia é condenar a Terra a virar outra coisa. Por tudo isso, o tribunal é o lugar certo para arbitrar esse tipo de agressão.

3 - Ricardo Borges/Folhapress - Ricardo Borges/Folhapress João Moreira Salles. no lançamento do Instituto Serrapilheira no IMPA no Rio de Janeiro.

💥️Você tem uma visão otimista ou pessimista para o futuro da Amazônia?

Eu sou da tese de que o otimismo é uma estratégia. Eu conheci pessoas extraordinárias na Amazônia, e que são extraordinárias porque são otimistas, porque se não o fossem, teriam sucumbido. E eu aprendi isso com elas, então, sim, eu sou otimista.

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