Não existe espaço no futuro onde não há diversidade, diz empresário

Essa é uma missão que Ricardo Silvestre, CEO da Black Influence, chamou para si. Acumulando crachás que validam a potência negra na criação - eleito como uma das 10 LinkedIn Top Voices Next Gen; presente na lista de 100 negros mais influentes do mundo pelo MIPAD da ONU, além de estar na Forbes Under 2022, como um das jovens de até 30 anos que se destacaram em 15 setores, nos mais diversos cantos do país - é ele um dos atores que vem ajudando a redesenhar o mercado, mobilizando empresas para levar ainda mais diversidade e inclusão nas ações com influenciadores.

Nesta entrevista, Ricardo conta um pouco mais sobre sua trajetória na publicidade e como é estar a frente da principal agência especializada em influenciadores negros da América Latina.

💥️Edu Carvalho: Qual é o valor do sonho e qual é o valor dos seus sonhos?

💥️Ricardo Silvestre: O sonho tem um valor imensurável. É tão grande o poder de modificar a nossa vida, de levar para lugares que nem imaginamos?Não tem valor, é algo tão poderoso que extrapola qualquer possibilidade que exista e de que estamos acostumados. Meus sonhos seguem a mesma linha: tudo o que tenho vivido e vivi até aqui, principalmente as realizações, me mostram isso a cada dia. Coisas que não esperei, mas sigo vivendo; sonhos que não esperava realizar tão cedo, meus e das pessoas que amo, da minha família. É algo tão grande, que de tão grande talvez seja capaz de mensurar.

💥️Para outras pessoas talvez seja mais fácil responder sobre sonhos. Você acredita que pessoas como você são levadas a acreditar que não podem sonhar? Existe um método para isso?

É uma coisa diária, como se fosse um pacto que nos impede, algo que o outro lado combina pra nos afetar, e em vários aspectos. Tenho pensado muito sobre o que aconteceu com o Vini Jr em vários exemplos, e os motivos pelos quais algumas coisas continuam a acontecer com ele. Num dos post, li sobre a sua excelência, que o leva a todos esses ataques. Porque ele é incrível, porque é bom.

Estamos cada vez mais assumindo espaços que "não são" nossos e isso gera um incômodo enorme. O que as pessoas puderem fazer, através do preconceito, por não concordar, elas farão para dificultar. Nós estamos e somos todos os dias estimulados a deixar de sonhar.

Uma das minhas experiências na agência mesmo eu fui demitido quando era estagiário, e foi uma das maiores tristezas da minha vida. O estagiário está no lugar do aprendizado, da escuta, para ser ensinado. Quando você é demitido sendo estagiário, eu fiquei com uma interrogação na minha cabeça: eu sou tão ruim assim? No meu feedback, que foi pior ainda, a pessoa disse que eu não tinha nascido para ser publicitário. Naquele momento, a pessoa estava tentando matar o meu sonho. Só que eu não aceitei, dei a volta por cima.

E, de fato, a publicidade não era pra mim. Eu não concordava em como a publicidade era feita naquela época e é por isso que estou neste outro lado. Neguei a imposição que me fizeram. Sempre tem uma experiência que envolve a insistência para que a gente desista de um sonho, de ser grande, de ter uma profissão. Infelizmente faz parte. Todos os dias tem alguém que nos desestimula.

💥️Era um mecanismo de não te deixar sonhar e sentir-se pertencendo a fase em que você teve burnout?

É um lugar de fazer entender que não somos partes daquilo. De que não somos importantes, de que o que nós fazemos não é bom, não é visto, não tem qualidade. As pessoas tinham uma facilidade enorme de criticar meu trabalho. E onde o meu ver, não existiam críticas; mas sim situações inventadas, ações; muito no intuito de fazer com que não me pertencesse. Eu acreditei muitas vezes que não era bom, de que aquilo não era pra mim. Acho que. A reviravolta que aconteceu veio pra mostrar que não era nada daquilo: hoje vejo com esses olhos, de que estavam errados; e de que o plano delas falhou.

💥️Você ainda se sente sendo um dos únicos?

Infelizmente sim. É um lugar de extrema solidão, a maior parte do tempo. Sempre troco com pessoas que estão numa situação parecida com a minha; ainda assim é tudo muito solitário. Sinto falta de ter mais pessoas como eu, principalmente em publicidade. É mais difícil encontrar os pares; quem já tem uma história parecida já estamos juntos. Isso existe e é algo que sufoca.

💥️A solidão te levou a criar a Black Influence?

Foi um dos motivos. Eu entendi que estar nesses lugares tem a devida valorização; oportunidade não era ideal, mas foi um conjunto de coisas. Eu adoeci, entendi que se eu mudasse de emprego ia ser mais do mesmo; mas foi a forma que encontrei pra me ajudar, especificamente, e no paralelo, fazer a diferença. Construir coisas junto de outras pessoas. Esse é o grande jogo. A partir do momento que as coisas aconteceram, que o jogo virou, percebi a importância do coletivo, cada uma no seu canto, mas também que estão solitários; na potência que isso tem, na unidade. E como conseguimos pensar coisas estratégicas, criativas, que em separado, teríamos mais dificuldade. É realmente algo de muito valor.

💥️Como conseguir tornar essa agenda (de inclusão) algo que seja genuíno?

Por um processo educacional. A gente sabe quanto isso é pesado, que a gente só queria trabalhar, mas não, temos ainda de educar sobre uma pauta que foi ignorada o tempo todo. Esse mercado tem uma média de 110 anos, desde a criação da primeira agência. Começamos a falar destes assuntos há cinco anos. É tudo muito novo.

Minha função é trazer reflexões, provocações, que não foram feitas. Esse processo de ser genuíno passa pelo lugar de falar com as pessoas, o óbvio é a mesma coisa. É importante repetir e falar que não estamos aqui só em novembro; que é óbvio mas não é. Trazer a provocação também faz parte desse movimento de mudança, para mudar que existe valor, que pode ser genuíno e que é rentável. Já que tudo no mercado gira em torno de renda, mobilização e grana, vamos olhar para esse viés. É rentável falar de diversidade, é rentável ser genuíno no fim das contas.

💥️O que o Ricardo busca hoje?

Eu sempre quis ser alguém que contribui de alguma forma para uma mudança positiva. Um dos maiores desafios da minha vida é separar um pouco o que é cada coisa, mas é muito difícil, é o que decidi fazer com tudo que aprendi, com minha bagagem de vida. Meu sonho também é fazer parte da transformação enquanto agente de mudança, transformando o mercado e a vida das pessoas para que se sintam de fato representadas.

💥️O que o mercado publicitário ainda precisa ouvir?

Que representatividade é o futuro, e que se não estivermos de acordo com estas pautas, ele não vai prosperar. Não existe espaço no futuro onde não há diversidade.

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