Águia nazista de navio afundado vira dor de cabeça para governo uruguaio

Águia nazista de navio afundado vira dor de cabeça para governo uruguaio
Alfredo Etchegaray

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Jorge de Souza

"Derreter aquela peça histórica para criar uma imagem artística é um completo absurdo", revoltou-se o empresário, ao saber da proposta do presidente — por quem, no entanto, ele diz ter "muita consideração". "É como retirar um bloco de pedra do Coliseum de Roma para fazer uma estátua de arte moderna".

E ele não foi o único que se indignou com a proposta do presidente uruguaio.

💥️Voltou atrás

A gritaria foi tamanha que, apenas dois dias após anunciar o seu plano — que já tinha até um artista plástico contatado para executar a obra —, o presidente do Uruguai voltou atrás.

"Uma esmagadora maioria não concorda com o projeto, e, se queremos a paz, a primeira coisa é buscar a unidade. Reafirmo que era uma boa ideia, mas um presidente precisa saber ouvir e representar o povo", disse Lacalle Pou, visivelmente constrangido com a situação.

💥️"Eu sei o que fazer"

Com isso, voltou à estaca zero o destino que será dado à controversa imagem, que, desde que foi retirada do navio afundado, virou uma dor de cabeça para o governo uruguaio, que, aparentemente, não sabe o que fazer com ela.

"Eu sei", diz Alfredo Etchegaray. "O lugar águia do Graf Spee é em um museu, já que é uma peça histórica. Sempre defendi isso, mas nunca fui ouvido pelos governantes do meu país. Temos que instruir, não destruir nossa História. Não podemos mudar o passado, mas podemos melhorar o futuro. As próximas gerações precisam saber o que foi o nazismo, e essa águia simboliza o que foram aqueles anos sombrios", diz o empresário, que garante ter gasto uma pequena fortuna para financiar o resgate da peça e, por isso, exige sua parte.

"O governo do Uruguai tem que honrar o contrato que assinou conosco na época do resgate. Ele previa que a águia seria enviada a um museu ou vendida para uma entidade cultural, e nós teríamos direito a metade do que ela vale", diz Etchegaray, tocando no ponto central da questão: a compensação financeira que ele sempre alegou ter direito de receber — e que o governo uruguaio desconversa, afirmando que o contrato não foi cumprido integralmente, porque apenas as partes do navio que interessavam ao empresário foram removidas, e não todos os escombros, que até hoje atrapalham a navegação nas imediações do porto da capital uruguaia.

💥️Quanto vale?

💥️E quanto vale a águia de bronze do Graf Spee?

"Difícil dizer, porque é um objeto histórico, com valor incalculável", exagera o empresário. "Mas estimo uns 60 milhões de dólares", diz Etchegaray, que sempre foi contestado pelo governo uruguaio, tanto no direito que alega ter sobre 50% do valor da peça, quanto no que diz que ela vale.

💥️Governo recorreu

Nove anos atrás, Etchegaray conseguiu uma vitória parcial no caso, quando a justiça uruguaia determinou que a águia fosse leiloada, e parte do dinheiro arrecadado fosse destinado aos financiadores do seu resgate (o mergulhador Héctor Bado, que achou o objeto, morreu anos atrás, também sem nada receber por ele).

Mas, amparado na gritaria de entidade judaicas — e também do governo da Alemanha —, que temiam que a peça fosse arrematada por simpatizantes do regime nazista, o governo uruguaio recorreu da decisão, e a Suprema Corte do país decidiu que a polêmica peça passaria, então, a ficar sob a guarda do Estado, situação que permanece até hoje.

E sem nenhuma solução à vista, a não ser a destrambelhada proposta do presidente Lacalle Pou, de derreter a peça e transformá-la em uma "pomba da paz".

"Se querem fazer um símbolo de paz, que usem qualquer material, não o bronze da águia do Graf Spee, que é um objeto histórico", argumenta Etchegaray, que, enquanto esteve em poder da peça, chegou a colocá-la em exibição em um hotel de Montevidéu, de onde foi retirada, após a decisão da corte uruguaia.

Desde então, a polêmica imagem jaz em uma caixa de madeira, em um depósito, sob custódia da Marinha uruguaia, sem que ninguém do governo saiba o que fazer com ela.

💥️Uma batata quente

Com sua proposta da semana passada, o presidente Lacalle Pou tentou livrar da batata quente que tem nas mãos, mandando, na prática, destruir o objeto.

Mas o plano fracassou.

💥️De onde veio a águia

Aguarda-se, agora, os próximos capítulos de uma novela que vem se arrastando desde que a imagem símbolo do couraçado Graf Spee foi resgatada do fundo do Rio da Prata, 67 anos após o teatral naufrágio do então principal navio de Hitler na Segunda Guerra Mundial pelo seu próprio comandante, o oficial Hans Langsdorff, que se matou em seguida, para que os segredos do navio não caíssem em mãos inimigas — uma história também cheia de reviravoltas, que pode ser conferida aqui.

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