Marmita de casal vira sinônimo de liberdade sexual e glamoriza solteirice

Em uma noite de sábado do último ano, o economista Jorge, 26, foi convidado por cônjuges a tomar vinho no apartamento deles, na região central de São Paulo. Compareceu. No decorrer do embriagado encontro, foi dureza resistir à fome. Felizmente, os hóspedes haviam planejado o jantar: o próprio Jorge.

Satisfeito, repetiu a voluptuosa trama nas semanas seguintes. Era, oficialmente, a marmita do casal.

Normalmente discretas, as marmitas existem há muito tempo e estão por todo lugar. São pessoas que entram em uma estabelecida vida conjugal para recorrente sexo a três. Entretanto, marmita não é bagunça: há dois sacros mandamentos a serem seguidos para experienciar esse apetitoso estilo de vida.

Primeiro, nada de envolvimento emocional. Segundo, e mais importante, os parceiros devem sempre dividir o prato para espantar possibilidade de ciúme.

Jorge até gostaria de ter a sós um de seus vorazes marmiteiros, mas regra é regra. Durante as relações, o jovem se esforçava para desejar o parceiro preterido. Difícil, diz.

Em pouco tempo, para salvação do economista, o casal rompeu, e Jorge encontrou um namorado. A fase monogâmica, no entanto, triunfou por curtíssimo período.

Um dia, o outrora comprometido homem com quem Jorge muito sonhou reapareceu, e o economista virou o jogo: tornou-o marmita e o abocanhou com gula.

Diferente de Jorge, que preferiu não ter seu sobrenome divulgado por autopreservação, o professor de inglês André Marques, 43, anuncia ser uma quentinha nada tímida e muito orgulhosa.

A primeira investida de André a um casal foi assustadora, afirma. Há um ano, marcou encontro com a dupla em um bar. Apresentou-se, mas tomado por dúvidas. Poderia ser uma armadilha a culminar em sequestro, pensava.

Por fim, o professor foi mesmo emboscado e acabou até amarrado, em uma cama de motel. "Todos aproveitaram muito. Era como ser o protagonista de um pornô ao vivo", diz.

André tomou gosto pela carreira. Logo, se pegou envolvido com outros casais e nunca mais parou. "A verdade é que gosto de ser o centro das atenções, e eles me proporcionam isso. Sempre fui uma pessoa de grupos e estendi isso à minha vida sexual. Precisando de uma marmitinha, é só me chamar", declara aos risos.

O homem diz só ver benefícios em sua escolha. Para ele, o melhor é a possibilidade de evitar o romance e direcionar suas energias somente à transa. "Vou ciente de que eles são um casal. Já tem uma história de amor e buscam somente o sexo. É o acordo deles."

Acordo é a palavra-chave para Jairo Bouer, psiquiatra especialista em sexualidade. Para ele, se estiverem todos em harmonia, os arranjos possíveis a três são infinitos. No entanto, há riscos ao escolher uma marmita.

"Uma das partes do casal pode se sentir preterida. Há ainda a possibilidade de o membro intruso sentir mais atração por um do que por outro. Isso pode gerar algum nível de estresse e ciúmes, desestabilizando o casal", diz Bouer.

Em relação ao elemento intruso, o psiquiatra alerta para o perigo de esperanças frustradas. "Sendo algo mais frequente, podem brotar no terceiro membro expectativas do ponto de vista emocional que não serão atendidas porque o casal está bem resolvido."

Sempre fui uma pessoa de grupos e estendi isso a minha vida sexual

André Marques, 43

professor de inglês

A massoterapeuta Daniela Vilela, 28, começou, em março de 2022, a visitar semanalmente um homem e uma mulher em seus 30 anos. Ela tinha um plano sólido: no estilo "porra-louca", aproveitaria ao máximo sua primeira experiência com um par. Sem sentimentos, só indócil sexo.

Não deu. Após alguns encontros, a moradora do Rio de Janeiro estava apaixonada. "O problema é que só por ela, não por ele." Sofreu, e muito, relata.

Daniela não sabia como solucionar a situação. Contar poderia acabar com tudo. Ficar calada poderia acabar com ela. A princípio, escolheu o silêncio.

Aguentou pouco. No último mês de setembro, terminado um dos periódicos banquetes, disse ao casal preferir estar com a mulher. E talvez estar apaixonada. Nervosa, falava muito. Até chorou.

Impiedosos, seus marmiteiros encerraram ali mesmo aquela aventura. Daniela viveu o luto, mas logo voltou ao cardápio. Para crescimento pessoal, afirma, encontrou outros casais em busca de ménage. Curtiu muito.

"A verdade é que adoro ser marmita. Não escondo e gosto de ostentar isso. Tenho menos preocupações e o dobro de prazer. Não é uma maravilha?"

O que você está lendo é [Marmita de casal vira sinônimo de liberdade sexual e glamoriza solteirice].Se você quiser saber mais detalhes, leia outros artigos deste site.

Wonderful comments

    Login You can publish only after logging in...