Arábia Saudita negocia entrar no Banco dos Brics

O Novo Banco de Desenvolvimento, instituição de crédito com sede em Xangai mais conhecida como "Banco dos Brics", está em negociações com a Arábia Saudita para admitir o país como seu nono membro, medida que fortaleceria suas opções de financiamento, já que o acionista fundador, a Rússia, luta sob o impacto de sanções.

A adesão do reino reforçaria os laços entre o banco, estabelecido pelas maiores economias em desenvolvimento do mundo como alternativa às instituições de Bretton Woods lideradas pelo Ocidente, e o segundo maior produtor de petróleo do mundo.

"No Oriente Médio, atribuímos grande importância ao Reino da Arábia Saudita e atualmente estamos envolvidos num diálogo qualificado com eles", disse o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) ao Financial Times em comunicado.

As negociações com a Arábia Saudita ocorrem no momento em que o NBD se prepara para embarcar numa avaliação formal de suas opções de financiamento, que foram questionadas pela invasão da Ucrânia pela Rússia. O banco realiza sua reunião anual na terça e quarta feiras (30-31).

A associação fortaleceria os laços de Riad com os países do Brics num momento em que a Arábia Saudita, maior exportadora de petróleo bruto do mundo, também busca relações mais estreitas com a China. O presidente chinês, Xi Jinping, saudou uma "nova era" nos laços dos países quando visitou o reino no final do ano passado, e Pequim negociou em março um acordo entre a Arábia Saudita e o Irã para retomar as relações diplomáticas.

Autoridades da Arábia Saudita não estavam disponíveis para comentar.

O NBD foi criado em 2015 pelos chamados Brics —Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul— para emprestar fundos para projetos de desenvolvimento em economias emergentes. Ele emprestou US$ 33 bilhões (R$ 165,3 bilhões) para mais de 96 projetos nos cinco países fundadores e expandiu seu número de membros para incluir os Emirados Árabes Unidos, Egito e Bangladesh.

A Arábia Saudita representaria mais um acionista rico enquanto o NBD avalia sua capacidade de mobilizar fundos, depois que a guerra na Ucrânia levantou preocupações sobre a dependência do banco da Rússia. Como membro fundador, a Rússia detém uma participação de cerca de 19% no banco.

O NBD foi forçado a suspender sua exposição à Rússia de US$ 1,7 bilhão (R$ 8,5 bilhões), ou cerca de 6,7% de seus ativos totais, e interromper o financiamento de novos projetos russos para garantir aos investidores que estava cumprindo as sanções lideradas pelo Ocidente contra Moscou.

As opções de captação de recursos são "a coisa mais importante no momento", disse Ashwani Muthoo, diretor-geral do escritório de avaliação independente do NBD, criado no ano passado, em entrevista. "Estamos lutando para mobilizar recursos."

Muthoo, que se recusou a comentar sobre as negociações sauditas, disse que o conselho quer examinar instrumentos e moedas alternativas para trazer recursos. O NBD levantou fundos em iuanes da China e estava tentando levantar o rand sul-africano este ano.

"Teremos que analisar a situação da Rússia, a guerra... esses são os tipos de coisas que teremos que observar", disse Muthoo.

Moscou disse que vê o banco como um instrumento para ajudar a aliviar o impacto das sanções ocidentais e se afastar das vendas de petróleo atreladas ao dólar. O primeiro-ministro da Rússia, Mikhail Mishustin, disse em visita à China nesta semana que Moscou vê como "um dos principais objetivos do banco" defender o bloco das "sanções ilegítimas do Ocidente coletivo".

O Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (AIIB na sigla em inglês), outro credor multilateral do qual a China é o maior acionista, também congelou seus negócios na Rússia no ano passado, embora tivesse muito menos exposição.

Os movimentos do NBD e do AIIB revelam como até mesmo as instituições destinadas a desafiar as organizações multilaterais ocidentais cooperaram amplamente com as sanções do setor financeiro contra a Rússia devido à sua dependência do acesso ao financiamento em dólares.

A agência de classificação Fitch rebaixou a nota de crédito do NBD de AA+ em julho passado para AA, alertando que o "risco reputacional" pela participação russa poderia potencialmente limitar o acesso ao mercado de títulos em dólar.

Neste mês, a agência revisou sua perspectiva para o banco, de "negativa" para "estável", observando as medidas tomadas para mitigar sua exposição a Moscou. Os credores multilaterais geralmente contam com altas classificações e baixos custos de financiamento para emprestar mais barato.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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