Gerenciando riscos no agro

Estávamos desacostumados a ouvir a palavra "crise" no agronegócio brasileiro. O crescimento recente de pedidos de recuperação judicial no setor, especialmente no Centro-Oeste, tem sido surpresa após três anos de grande prosperidade. Um bom gerenciamento de riscos de mercado pode trazer mais previsibilidade, especialmente para pequenos e médios produtores rurais.

Estimamos uma quebra da safra de grãos inferior a 10% na média do Brasil em 2024, depois de uma alta importante de quase 20% no ano passado. Ou seja, será a segunda maior safra de grãos da nossa história. O problema parece estar associado também à queda recente de preços internacionais e à pressão altista em custos no setor, ocasionando perda de liquidez.

A bonança foi tanta que nos acostumamos a ver apenas o lado fácil da equação. A demanda global por alimentos só aumenta, na esteira de uma população crescente. Além disso, são poucos os países que possuem nossas vantagens comparativas: amplas áreas de terras agricultáveis, boa hidrologia, solo ajustável via fertilização e tecnologia disponível para o campo, pela excelência de centros de pesquisa e desenvolvimento genético.

Embora o agro seja "pop", não é fácil a vida de um produtor de grãos. Com eventos climáticos mais proeminentes e guerras afetando áreas importantes da produção mundial de grãos, a oferta e, consequentemente, os preços podem se tornar mais instáveis no contexto global.

Precisam comprar os insumos (sementes, agroquímicos e fertilizantes), cujos preços oscilam pelas cotações internacionais e pela taxa de câmbio, e ficar de olho no clima e até nos vizinhos para iniciar o plantio. Contratam o pessoal, colocam as máquinas para funcionar. Se errarem no ponto ou o clima não ajudar, podem perder as sementes. E o pior, podem perder parte da produção ou ter que replantar, como ocorreu neste último ano-safra.

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São inúmeras as mensagens de voz pelo WhatsApp para fazer todos os contatos, inclusive com bancos repassadores das linhas de financiamento de programas do governo, o famoso Plano Safra. Para os pequenos e médios produtores, ainda é difícil o acesso ao mercado de capitais.

Precisam se preocupar em contratar o armazém e o frete até o porto ou outras áreas de embarque. Vale rezar para não ter altas relevantes no preço do diesel, que é basicamente o que define os custos de entrega da produção.

Assim, precisam acompanhar as cotações do dólar, do petróleo e o preço volátil de insumos; e ainda as variações de oferta, que puxam os preços internacionais das commodities para cima ou para baixo em alta frequência.

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Mas nem tudo isso seria necessário. A estratégia de grandes produtores que têm demonstrado crescimento sólido ao longo de muitos anos é se proteger dos riscos de mercado, especialmente da taxa de câmbio e dos preços internacionais de matérias-primas.

Uma primeira dica é calcular as margens a serem obtidas sobre os custos contratados. Nos anos de bonança, chegaram ao redor de 40% a 50%. Dentro da normalidade, situam-se entre 15% e 30%, dependendo da região, e podem ficar abaixo disso nos anos de vacas magras.

Com o cálculo das margens na ponta do lápis, resta vender ou comercializar o equivalente ao custo da produção, descontada a tal margem. Não importa o nível de preço dos contratos a futuro, dólar, nada disso. A estratégia seria vender 70% da colheita: os 100% menos os 30% de margem, por exemplo.

Neste momento é preciso ter sangue-frio, se ater aos números e não aos amigos e vizinhos ou formar consenso, pois o objetivo não é apostar, e sim reduzir riscos. Travar a margem (uma vez definida) não é zerar risco, pois ainda é preciso decidir quando começar a plantar, fazer os tratos culturais, colher e escoar a produção. Travar a margem é simplesmente reduzir ou segregar os riscos garantindo no mínimo continuidade no negócio. Para apostar, o produtor nem precisaria plantar; poderia investir na Bolsa em contratos futuros de commodities.

O que você está lendo é [Gerenciando riscos no agro].Se você quiser saber mais detalhes, leia outros artigos deste site.

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